Vítimas de vazamento de dados, milhares de aposentados e pensionistas têm vivido dias de angústia, medo e revolta.
Imagine passar uma vida inteira de trabalho, enfim se aposentar, e descobrir que, mesmo assim, sua paz não está garantida. De repente, seu telefone não para de tocar. Do outro lado da linha, desconhecidos sabem seu nome, seu CPF, seu número de benefício, sua data de nascimento e usam essas informações para empurrar serviços que você não pediu, ou pior, para te ameaçar e tomar dinheiro que você nem percebe que está perdendo.
É essa a realidade cruel que tem tirado o sono de milhares de aposentados e pensionistas no Brasil. Descontos indevidos, ameaças, contratos não autorizados e até empréstimos feitos à revelia se tornaram rotina na vida de quem, teoricamente, deveria estar protegido. E mais: tudo isso tem como pano de fundo um possível vazamento massivo de dados do INSS, que está sob investigação da Polícia Federal (PF) e de órgãos de controle.

Ameaças e pressão psicológica
A aposentada Cleide Dantas recebeu uma ligação de uma mulher que dizia ser de uma “central de aposentados”. Quando recusou um suposto cartão, veio a ameaça:
“Então, referente ao seu benefício está bloqueado. A senhora vai ter que aguardar 90 dias.”
Assustada, ela desligou e confirmou no próprio INSS que aquilo era mentira.
Assédio sem fim
A psicóloga Idalucia Garcia, de 71 anos, conta que vive sob uma “chuva de ligações”.
“As ligações são diárias, em tom insistente e até agressivo. Isso é assédio. Pegam dados pessoais e dizem que o serviço já está contratado, mesmo sem minha autorização.”
Descontos indevidos e fraudes absurdas
O aposentado Dimas Coimbra, de 71 anos, soma uma série de fraudes inacreditáveis:
- Desconto de R$ 120 por um cartão que nunca recebeu;
- Um plano funerário de Porto Alegre, cidade onde nunca pisou;
- Um empréstimo de R$ 2 mil, supostamente feito presencialmente, mesmo sem existir uma agência na cidade dele;
- Desconto de um plano de benefícios do Rio de Janeiro, a mais de 2 mil km de onde mora.
“É uma vergonha. Tiram dinheiro de quem conta moedinha pra comprar remédio.”
“Nunca nem ouvi falar!”
A pensionista Claudia Sobral, de Bauru (SP), descobriu um desconto de R$ 80 mensais de uma associação que nunca viu na vida.
“Pode parecer pouco pra alguns, mas pra quem vive de aposentadoria, faz muita falta. É carne, é mistura, é fruta que a gente deixa de comprar porque estão roubando nosso dinheiro sem autorização.”
De onde vazaram os dados?
Segundo o especialista em cibersegurança Carlos Alberto Costa, o problema começa dentro dos próprios sistemas do INSS. As falhas de segurança e os vazamentos recorrentes abriram caminho para golpistas e empresas de má fé.
“Há risco não só dentro do INSS, mas também na cadeia de terceiros, como empresas parceiras, que acabam sendo porta de entrada para esses vazamentos.”
Linha do tempo do vazamento de dados no INSS
🔹 2022 – O INSS é condenado pela Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) após um vazamento que expôs CPFs, dados bancários e informações sensíveis de milhões de beneficiários.
🔹 2023 – Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) aponta que mais de 400 credenciais internas do INSS estavam comprometidas, colocando em risco a segurança de dados dos aposentados.
🔹 Fevereiro de 2025 – Um hacker denuncia na plataforma X (antigo Twitter) o vazamento de dados de mais de 39 milhões de beneficiários do INSS. O caso ainda não foi totalmente confirmado, mas, logo após a denúncia, o governo corre para implementar medidas emergenciais de segurança, como exigência de biometria no app Meu INSS.
🔹 Maio de 2025 – A situação explode na mídia com relatos de aposentados de todo o país sofrendo com fraudes, ameaças, descontos não autorizados e assédio telefônico diário.
O que diz o INSS?
O presidente do INSS, Gilberto Waller, afirmou que a Polícia Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e outros órgãos estão atuando na investigação.
“Estamos adotando medidas internas de reforço na segurança dos dados, buscando entender como essas informações foram parar nas mãos desses criminosos.”
Enquanto aguardam respostas, milhares de aposentados seguem lutando no Procon, na Justiça e nas plataformas de reclamação para tentar recuperar não só o dinheiro perdido, mas também um direito básico que parece ter sido arrancado: a paz de viver os últimos anos de vida com dignidade.
Por: Daniela Castelo Branco
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