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Personal é impedida de usar banheiro feminino em academia no Recife após ser confundida com mulher trans

Kely Moraes, fisiculturista de 45 anos, foi alvo de constrangimento e agressões verbais; caso está sendo investigado pela Polícia Civil

O que era para ser apenas mais um dia de treino virou um episódio de constrangimento e violência para a personal trainer e fisiculturista Kely Moraes, de 45 anos, em uma academia no bairro de Boa Viagem, na zona sul do Recife.

Kely foi impedida de usar o banheiro feminino após ser confundida com uma mulher trans por uma aluna, que, sem qualquer senso crítico, tentou barrar sua entrada no espaço, alegando que aquele “não era o lugar dela”.

“Na hora, eu nem acreditei que aquilo estava acontecendo. Achei que fosse brincadeira. Já tinha ido ao banheiro e, descendo a escada, ela parou na minha frente e disse que eu não poderia entrar naquele banheiro”, contou a personal, visivelmente abalada.

Ao questionar o motivo, a resposta foi direta e carregada de preconceito: “Porque você não pode. Ali não é seu lugar. Ali não é banheiro pra homem”, relembra.

Cena de constrangimento gravada e compartilhada

O episódio, que rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais, foi parcialmente gravado por uma testemunha. No vídeo, uma aluna grávida tenta defender Kely, pedindo que ela mostre sua identidade para comprovar que é, sim, mulher.

“Mostra a tua identidade, Kely, pra provar a ele também. Tu é ridículo. Ela é mulher”, diz a aluna, confrontando um homem que também participou da agressão verbal.

O homem insiste, sugerindo que ela use um “banheiro inclusivo” localizado em outro andar da academia. Ao ouvir Kely perguntar “Eu sou o quê?”, ele responde: “Mulher inclusa. É inclusivo lá embaixo.”

“Eu não tenho que provar quem eu sou”

Fisiculturista e profissional da área há anos, Kely desabafou sobre o impacto do episódio: “Eu tô impressionada. Em nenhum momento ela pensou em se desculpar. Ela falou com tanta certeza sobre o que eu era, que, se eu não tivesse a cabeça no lugar, até acreditava. E o pior: tinha gente em volta que ficou do lado dela, mandando eu me calar.”

Apesar de relatar que já enfrentou olhares tortos e comentários preconceituosos por conta do seu porte físico, ela afirma que nunca tinha vivido uma situação tão constrangedora e violenta.

“Eu não tenho que provar nada pra ninguém. Eu sou uma mulher, sou uma profissional digna, estudei, trabalho, pago minhas contas. Por que eu não posso usar o banheiro?”, questiona, em tom emocionado.

Providências

Kely registrou um boletim de ocorrência na Delegacia de Boa Viagem, e o caso está sendo investigado como injúria e constrangimento ilegal. A academia informou que abriu um procedimento interno para apurar o episódio.

A personal também pretende acionar a Justiça contra o homem e a mulher que participaram da abordagem violenta.

Debate sobre o uso de banheiros no Brasil

O episódio reacende um debate sensível no Brasil, que ainda não possui uma legislação específica sobre o uso de banheiros por pessoas trans.

Em setembro de 2024, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu não analisar um recurso de uma mulher transexual que foi impedida de usar o banheiro feminino em um shopping. A decisão, de 8 votos a 3, foi tomada por uma questão processual e não entrou no mérito do direito ao uso do banheiro conforme a identidade de gênero.

Enquanto isso, entidades que defendem os direitos da população trans seguem na luta para garantir que todas as pessoas possam usar o banheiro de acordo com o gênero com o qual se identificam, e não baseado em características biológicas.

Para Kely, no entanto, a dor do preconceito já deixou uma marca. “Isso não é só sobre mim. É sobre quantas pessoas, todos os dias, são desumanizadas, questionadas e atacadas simplesmente por serem quem são.”

Por: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação/CNN

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