Advogado assassinado movimentou R$ 8,2 milhões; mensagens revelam entrega de “encomendas” a gabinetes de ministros
A Polícia Federal desmontou um esquema milionário de venda de decisões no Superior Tribunal de Justiça (STJ), que envolvia pagamentos em dinheiro vivo, lavagem de dinheiro e uma rede de intermediários. A investigação teve como ponto de partida, denúncias feitas ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ganhou força após a análise do celular do advogado Roberto Zampieri, assassinado em setembro de 2023, em Cuiabá (MT).
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostram que Zampieri movimentou R$ 8,2 milhões em espécie entre 2019 e 2022. Uma das mensagens encontradas no celular chamou a atenção dos investigadores: “Vim conversar com o chefe de gabinete do ministro, tive que vir de carro para trazer uma encomenda dele”. Para a PF, “encomenda” é código claro para dinheiro.
O esquema, segundo os investigadores, contava com uma sofisticada rede de lavagem. Um dos casos mais chamativos é o de João Batista, auxiliar de serviços gerais do lobista Andreson Gonçalves, que movimentou R$ 2,6 milhões no período. Só em saques, foram R$ 800 mil : valores totalmente incompatíveis com sua função.
A operação da PF, deflagrada em novembro de 2024, cumpriu 24 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, Mato Grosso e Pernambuco. Três servidores do STJ foram afastados de suas funções. Eles ocupavam postos-chave nos gabinetes de ministros:
- Daimler Alberto de Campos, chefe de gabinete da ministra Isabel Gallotti
- Rodrigo Falcão de Oliveira Andrade, chefe de gabinete do ministro Og Fernandes
- Márcio José Toledo Pinto, com passagem por diversos gabinetes do tribunal
O escândalo também respingou no Tribunal de Justiça de Mato Grosso, onde dois desembargadores; Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho, estão na mira da Corregedoria Nacional de Justiça.
As mensagens analisadas revelam a dimensão das tratativas. Em uma delas, Zampieri escreve: “Vocês têm que preparar uns 20 milhões pra investir lá em cima, e aí resolve. Caso contrário, é perigoso”.
No Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Cristiano Zanin, relator do caso, destacou haver um “robusto conjunto de provas” com diálogos que revelam “espúrias negociações”. Até agora, não há indícios diretos de participação de ministros do STJ, mas o cerco se fecha sobre assessores e operadores do esquema.
As defesas dos investigados ainda não se manifestaram. João Batista não foi encontrado pela PF.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação