Deputado se defende dos EUA enquanto investigação avança e futuro político vira incógnita
O clima político entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a família Bolsonaro voltou a ferver. Nesta terça-feira (3), durante uma coletiva de imprensa, Lula subiu o tom ao criticar, sem citar diretamente, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
“É lamentável que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, esteja lá, nos Estados Unidos, tentando convocar os americanos a se meterem na política interna do Brasil. Isso, sim, é uma prática terrorista. Ele renunciou, pediu licença do mandato para ficar tentando lamber as botas do Trump e dos assessores do Trump”, disparou o presidente.
A declaração veio na esteira das investigações que miram Eduardo Bolsonaro por suposta atuação nos EUA com o objetivo de atacar instituições brasileiras, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF). O inquérito foi aberto após representação do líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), que prestou depoimento à Polícia Federal nesta segunda-feira (2), levando documentos, vídeos e publicações que, segundo ele, comprovam as ações do parlamentar.
Lula não parou por aí e aproveitou para questionar o comportamento da família Bolsonaro frente às instituições brasileiras. “Esse cidadão pensava isso da Suprema Corte quando mentiram ao meu respeito? Vocês conhecem alguma fala dele questionando a Suprema Corte? O pai dele, quando nega a Justiça Eleitoral, não nega os votos que os filhos receberam, só nega o dele”, afirmou, em tom ácido.
Eduardo se defende e fala em perseguição
Do outro lado do mundo, mais precisamente dos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro se defendeu. Para ele, tudo não passa de uma perseguição política. Segundo Eduardo, o inquérito é um “jogo de cartas marcadas” para tirá-lo da disputa eleitoral de 2026.
“Estão jogando no tapetão. Do nada, passei a ser investigado no inquérito do plano de golpe da Disney. Isso é uma ‘fishing expedition’, uma pesca probatória, uma busca sem alvo certo. Querem me anular internacionalmente e, agora, politicamente”, afirmou.
O deputado licenciado alega que desde o início do processo houve tentativa de retirar seu passaporte, justamente para impedir sua atuação fora do país. E reforça: “Querem me tirar das eleições de 2026”.
Candidato, mesmo morando fora?
E, enquanto se defende, Eduardo Bolsonaro já articula seu futuro político, ainda que, por ora, continue nos Estados Unidos sem previsão de retorno. Nos bastidores do PL, já se discute abertamente a possibilidade de ele disputar uma vaga ao Senado por São Paulo mesmo estando fora do Brasil.
Segundo especialistas em direito eleitoral, essa hipótese é legalmente possível. Isso porque, pela legislação, o conceito de domicílio eleitoral não se confunde com residência.
“O fato de estar fora do país não impede a candidatura”, explica Fernando Neisser, professor de direito eleitoral da FGV-SP. “Domicílio eleitoral é um conceito mais amplo, não depende de onde a pessoa mora fisicamente”, completa o advogado Alberto Rollo.
O próprio PL avalia essa saída como uma estratégia para blindar Eduardo e mantê-lo no jogo político, ainda que o cerco jurídico esteja se fechando. A abertura do inquérito no STF, autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, inclui não só a investigação da atuação de Eduardo nos EUA, como também o monitoramento e a preservação das publicações nas redes sociais do parlamentar.
Clima de tensão cresce
Em meio a esse embate, cresce a percepção de que o desgaste institucional entre o governo, o Judiciário e o bolsonarismo atinge um novo patamar. Lula deixa claro que não vai poupar palavras e tampouco aceitar o que considera ingerência externa sobre a política brasileira. Eduardo, por sua vez, adota o discurso de vítima de perseguição, reforçando sua base política e apostando na narrativa de que tentam tirá-lo do páreo em 2026.
Se vai conseguir sustentar essa estratégia à distância, é uma incógnita. Mas uma coisa é certa: a crise entre governo, Judiciário e bolsonarismo está longe de acabar.
Por: Daniela Castelo Branco
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