Relatório final da comissão no Senado denuncia práticas enganosas da influenciadora em contratos com casas de apostas e recomenda investigação criminal
Nesta terça-feira (10), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, instalada no Senado desde novembro de 2024, apresentou seu relatório final, que propõe o indiciamento de 16 pessoas, entre elas a influenciadora digital Virginia Fonseca. O documento, elaborado pela relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS), aponta que Virginia cometeu crimes de propaganda enganosa e estelionato ao promover apostas online, destacando especialmente seu contrato com a casa de apostas Esporte da Sorte.
Com mais de 53 milhões de seguidores no Instagram, Virginia teria induzido o público ao erro ao divulgar vídeos que simulavam ganhos reais em apostas, mas que, segundo a CPI, eram gravados em contas fornecidas pelas próprias empresas e não refletiam apostas efetivas. Esse tipo de publicidade, que incentiva seguidores a apostar por meio de links promocionais, configura, para o relatório, violação do Código de Defesa do Consumidor e crime previsto no Código Penal.
Um dos pontos mais controversos do relatório é a análise do contrato da influenciadora, que previa o pagamento de 30% do lucro líquido da empresa com as apostas feitas via seus links. “As apostas são um jogo de soma zero: se a banca ganha, o apostador perde. Essa cláusula estabelece que os ganhos da influenciadora estão diretamente ligados às perdas dos seus seguidores”, critica o documento, que batizou essa prática de “cachê da desgraça alheia”.
Durante seu depoimento em maio de 2025, Virginia negou irregularidades e afirmou não receber valores vinculados às perdas dos apostadores, além de reforçar que usava a mesma plataforma acessível ao público. No entanto, a relatora Soraya Thronicke apontou contradições em sua fala e suspeitas de tentativa de “mudança de versão”. Após o depoimento, Virginia chegou a perder cerca de 600 mil seguidores, reflexo do impacto público da investigação.
Além de Virginia Fonseca, outros nomes também são indicados no relatório. Pâmela de Souza Drudi enfrenta as mesmas acusações de estelionato e propaganda enganosa, enquanto Deolane Bezerra responde por contravenções envolvendo jogos de azar, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A CPI recomenda ainda a criação de 18 projetos de lei para regulamentar o setor de apostas online, incluindo maior transparência nas parcerias com influenciadores digitais e restrições à publicidade direcionada a públicos vulneráveis, como menores de idade.
O relatório precisa ser votado pela CPI até 14 de junho. Se aprovado, será encaminhado ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal para investigação e possíveis denúncias. A comissão, que realizou 20 reuniões e ouviu 19 depoentes, enfrentou dificuldades políticas, mas conseguiu consolidar um documento detalhado e contundente.
Nas redes sociais, o caso gerou grande repercussão, com usuários reforçando a gravidade das acusações, especialmente após Virginia admitir que os vídeos promocionais eram feitos em contas de demonstração. Recentemente, o Senado aprovou um projeto de lei que proíbe artistas e influenciadores de promoverem apostas esportivas:uma medida que afeta diretamente figuras como Virginia Fonseca.
A defesa da influenciadora ainda não se pronunciou sobre o relatório. Enquanto isso, o debate sobre a responsabilidade ética dos influenciadores na promoção de jogos de azar segue aceso, com a CPI das Bets expondo um mercado que pode agravar problemas sociais, como o vício em apostas e perdas financeiras entre os públicos mais vulneráveis.
O desfecho do relatório e suas consequências legais serão acompanhados de perto por autoridades e pela sociedade.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação