Com críticas ao pacote que substitui o aumento do IOF, partidos da base endurecem o discurso e miram reposicionamento político em ano pré-eleitoral.
A relação entre o governo Lula e dois de seus principais aliados no Congresso vive dias de tensão. De um lado, PP e União Brasil, que juntos ainda ocupam quatro ministérios na Esplanada. Do outro, o Planalto tentando conter uma debandada política cada vez mais explícita; impulsionada, agora, pela polêmica envolvendo o pacote fiscal que substitui o aumento do IOF.
O estopim mais recente veio com a edição da Medida Provisória publicada na quarta-feira (11), uma resposta à suspensão do decreto do IOF. A proposta desagradou não só pelo conteúdo, mas pelo momento: em um ano pré-eleitoral, qualquer discussão sobre aumento de impostos tem potencial para virar dinamite política; e foi exatamente isso que aconteceu.
Parlamentares do PP e do União fizeram questão de vocalizar o descontentamento, apontando contradições na política econômica do governo. Enquanto o Planalto anuncia benefícios populares como vale-gás, reforma habitacional e linhas de crédito para categorias específicas, não há, segundo eles, esforço proporcional para cortar gastos. O recado tem sido direto: não haverá espaço para aumento de carga tributária em pleno 2024.
Nos bastidores, o clima é de reposicionamento. As duas siglas avançam nas tratativas para formar uma federação e já começam a desenhar caminhos que não necessariamente passam por Lula e também não passam por Bolsonaro. A aposta é por uma terceira via, ainda em construção, mas que exige desde já algum nível de distanciamento do governo.
Na tentativa de acalmar os ânimos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, conversou nesta quinta-feira (12) com os presidentes das siglas, Ciro Nogueira (PP) e Antônio Rueda (União). Ele tem insistido na narrativa de que o pacote não traz impacto direto à população e que os setores atingidos; como o agronegócio, já são amplamente beneficiados com isenções.
A leitura dentro do governo, no entanto, é que a discussão econômica está sendo contaminada por uma lógica eleitoral. E no Congresso, a expectativa é que a votação da MP fique para depois do recesso parlamentar, previsto para julho. Até lá, o Planalto deve intensificar o corpo a corpo; enquanto os partidos da base seguem testando o quanto ainda vale estar nela.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/Nexo Jornal