Charles McGonegal, de 69 anos, foi morto a tiros por cinco agentes após incidente em drive-thru; vídeo oficial causa comoção e levanta dúvidas sobre uso de força letal
Um episódio trágico ocorrido no estacionamento de uma lanchonete In-N-Out Burger, na Califórnia, voltou a colocar em pauta o delicado tema da violência policial nos Estados Unidos. No fim da tarde de 30 de abril, Charles Craig McGonegal II, de 69 anos, foi morto por uma sequência de disparos feitos por cinco policiais da cidade de Manteca, após um episódio confuso e ainda mal explicado.
O caso só ganhou visibilidade nacional agora, após a divulgação de um vídeo oficial com quase 19 minutos de duração, publicado nas redes sociais do Departamento de Polícia local no dia 13 de junho. As imagens, captadas por câmeras corporais, drones, viaturas e até pelas câmeras de segurança do restaurante, mostram em detalhes os últimos minutos de vida de McGonegal.
Entenda o que aconteceu
Tudo começou por volta das 17h05, quando funcionários do In-N-Out acionaram a polícia relatando que um homem em uma van branca estava agitado e batendo em carros na fila do drive-thru. Os relatos indicam que, depois de uma negativa de atendimento, McGonegal teria deixado o local, mas retornado minutos depois, colidindo com uma placa e arrastando a estrutura.
Ao chegar, o primeiro policial tentou conversar com o idoso por cerca de oito minutos, pedindo repetidamente que ele levantasse as mãos e colaborasse. “Não quero machucá-lo”, diz o agente em um dos trechos divulgados.
A situação, porém, saiu de controle quando McGonegal acelerou e bateu duas vezes contra uma viatura policial, empurrando o veículo por vários metros. A partir daí, cinco policiais abriram fogo. Foram mais de 20 disparos, segundo as primeiras análises. McGonegal ainda recebeu atendimento no local e foi levado a um hospital, mas não resistiu.
O perfil da vítima e os questionamentos
Morador de Lathrop, também na Califórnia, Charles McGonegal tinha um longo histórico de problemas com a lei, com registros criminais em diferentes estados desde a década de 1970. Mesmo assim, até agora, não há informações oficiais que indiquem que ele estivesse armado no momento da abordagem.
Testemunhas ouvidas pela imprensa local descreveram o susto diante da cena. Sharon Alameda e Keith New, que estavam na fila do drive-thru, contaram que o carro de McGonegal bateu repentinamente no deles, sem qualquer sinal de aviso.
O volume de tiros disparados também virou tema de polêmica. Durante coletiva, ao ser questionado sobre a quantidade de disparos, um porta-voz da polícia respondeu com outra pergunta: “Se alguém estivesse te atacando, quantos tiros você daria?”. A resposta gerou ainda mais indignação entre parte da população.
Repercussão e investigação
A divulgação do vídeo, acompanhada de um alerta sobre o conteúdo gráfico, foi a tentativa da polícia de dar transparência ao caso. As imagens mostram também os esforços iniciais de negociação feitos pelos agentes antes do desfecho fatal.
O episódio está sendo investigado pelo Ministério Público do Condado de San Joaquin, pelo Departamento de Justiça da Califórnia e também internamente pela própria Polícia de Manteca. Até o momento, os nomes dos policiais envolvidos não foram divulgados.
Nas redes sociais, o caso dividiu opiniões. Enquanto alguns defendem a ação dos agentes como uma reação a uma ameaça real, outros questionam se o uso de força letal era mesmo necessário, especialmente diante da idade do suspeito e da ausência de armas com ele.
Um debate que segue sem resposta
O caso de Charles McGonegal reacende um debate já antigo e doloroso nos Estados Unidos: o limite da força policial em situações de crise, principalmente quando envolvem pessoas em aparente surto ou em condição de vulnerabilidade emocional.
Escritórios de advocacia especializados em direitos civis, como a Sehat Law Firm, já se posicionaram, enviando condolências à família da vítima e cobrando uma investigação rigorosa.
Enquanto a apuração oficial segue, a comunidade de Manteca, assim como boa parte da opinião pública americana, segue em busca de respostas: era mesmo inevitável? Ou mais uma vez, a força falou mais alto do que a razão?
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação