Execução ocorre em meio a ataques mútuos com dezenas de mortos; escalada preocupa a comunidade internacional e gera reflexos até no Brasil
Em meio ao agravamento do conflito com Israel, o Irã executou, por enforcamento, Esmaeil Fekri: acusado de colaborar com o Mossad, serviço secreto israelense. A execução foi anunciada oficialmente nesta segunda-feira (16), pelo site Mizan Online, ligado ao Judiciário iraniano, e marca mais um capítulo tenso numa disputa que vem se intensificando nas últimas semanas.
Fekri, de identidade pouco conhecida fora do país, foi preso no final de 2023, e seu caso seguiu um trâmite judicial acelerado: julgamento, apelação e confirmação da sentença pela Suprema Corte iraniana. Ele foi condenado por “corrupção na Terra” e “moharebeh”; crimes que, no contexto da lei iraniana, geralmente envolvem traição e ações consideradas “contra Deus”.
Espionagem em tempos de guerra
Segundo as autoridades do Irã, Fekri teria mantido contato direto com dois oficiais do Mossad e estaria envolvido em ações de coleta e repasse de informações estratégicas, incluindo dados sensíveis sobre instalações militares e civis. Equipamentos eletrônicos teriam revelado trocas de mensagens com os agentes israelenses, sustentando as acusações de espionagem.
A execução ocorre num momento delicado. Quatro dias antes, em 12 de junho, Israel lançou uma ofensiva aérea contra instalações nucleares e militares iranianas. O ataque matou pelo menos 224 pessoas, entre elas civis, de acordo com o governo iraniano. Em resposta, Teerã lançou mísseis e drones contra alvos israelenses, deixando ao menos 24 mortos.
A escalada reacendeu o temor de uma guerra regional de grande proporção; com impacto direto nas rotas aéreas, mercados internacionais e na geopolítica global. O Brasil, que mantém relações diplomáticas com ambos os países e é historicamente defensor do multilateralismo, vê o acirramento com preocupação.
Pressa e punição
O chefe do Judiciário iraniano, Gholamhossein Mohseni Ejei, pediu agilidade nos julgamentos de pessoas acusadas de colaborar com o “regime sionista”. “O julgamento e a sentença devem ocorrer rapidamente, respeitando a lei, mas considerando o contexto de guerra”, disse. Essa fala sinaliza a postura cada vez mais rígida do Irã, que enfrenta acusações de abusos e falta de transparência nos processos judiciais, especialmente em casos considerados sensíveis.
Organizações internacionais de direitos humanos, como a Anistia Internacional, têm alertado para o uso político da pena de morte no Irã, principalmente em momentos de instabilidade. O país é um dos que mais executam pessoas no mundo, e a prática costuma ser adotada também como forma de controle social e intimidação política.
Reflexos globais
O episódio ganhou repercussão nas redes sociais, com opiniões divididas. Enquanto perfis pró-Irã celebraram a execução como um ato de soberania, críticos questionaram a ausência de provas públicas e a rapidez do julgamento. A falta de detalhes sobre quem era Fekri, qual era seu papel e quais dados ele teria repassado ao Mossad ainda deixa muitas perguntas no ar.
Para o Brasil, que tem cidadãos vivendo na região e exportações agrícolas que passam pelo Oriente Médio, o aumento da instabilidade representa mais do que um conflito distante. Tensões como essa impactam o comércio, elevam o preço de combustíveis e pressionam os debates diplomáticos em fóruns como o Conselho de Segurança da ONU.
A execução de Esmaeil Fekri, portanto, não é apenas um ato isolado; é um sintoma de um confronto que cresce a cada semana, e cujos desdobramentos o mundo todo ainda está tentando compreender.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação