Após décadas de parceria estratégica, países mergulharam numa rivalidade marcada por ataques, ideologias extremas e o risco de uma guerra regional no Oriente Médio.
Irã e Israel estão, mais uma vez, no centro de uma escalada perigosa no Oriente Médio. Nas últimas semanas, os dois países trocaram ataques diretos, reacendendo temores de um conflito de grandes proporções. Mas afinal, por que esses dois Estados, que um dia foram aliados estratégicos, hoje protagonizam uma das rivalidades mais explosivas da geopolítica mundial?
Para entender o presente, é preciso olhar para o passado. A relação entre Israel e Irã é marcada por uma transformação radical. Houve um tempo em que os dois países mantinham laços comerciais, militares e até diplomáticos. Essa convivência durou até o fim da década de 1970, quando tudo mudou de forma irreversível.
O que unia os dois antes da ruptura?
Ao longo das décadas de 1950, 60 e 70, Irã e Israel tinham muitos interesses em comum. O Irã, então uma monarquia liderada pelo xá Mohammad Reza Pahlavi, era visto como um parceiro confiável pelos israelenses e também pelos Estados Unidos.
Além de contar com uma comunidade judaica que vivia há mais de 2.500 anos em seu território, o Irã tinha motivações econômicas e estratégicas claras para manter boas relações com Israel.
Entre os principais pontos dessa aliança estavam o comércio de petróleo, com o Irã vendendo o produto a preços favorecidos para os israelenses, e acordos de cooperação militar. Um dos exemplos mais emblemáticos foi o chamado “Project Flower”, um programa secreto, iniciado em 1977, para o desenvolvimento conjunto de mísseis, que chegou a movimentar mais de 1 bilhão de dólares.
A Revolução Iraniana: o divisor de águas
O grande ponto de virada veio em 1979. A Revolução Iraniana derrubou o xá e instaurou um regime teocrático liderado pelo aiatolá Ruhollah Khomeini. Foi o início de uma nova era para o Irã e, com ela, o começo da hostilidade aberta contra Israel e os Estados Unidos.
O novo governo iraniano passou a adotar um discurso fortemente anti-Israel, rompendo relações diplomáticas, cortando acordos comerciais e assumindo um posicionamento ideológico de oposição total ao Estado judeu.
Mais do que uma disputa territorial ou política, a nova fase da relação passou a ser marcada por diferenças religiosas, ideológicas e pela busca de influência regional. O Irã começou a apoiar grupos como o Hezbollah, no Líbano, e mais recentemente, o Hamas, na Faixa de Gaza: ambos inimigos declarados de Israel.
Os três grandes objetivos do Irã, segundo especialistas
Analistas apontam que a estratégia iraniana tem três objetivos centrais: expulsar a influência dos Estados Unidos do Oriente Médio, apoiar a causa palestina com o objetivo de substituir Israel por um Estado palestino e enfraquecer a atual ordem internacional, que o Irã enxerga como dominada pelos interesses ocidentais.
Essa visão tem sido reforçada ao longo das últimas décadas, com o Irã ampliando sua influência em países como Síria, Líbano, Iraque e Iêmen, sempre com forte antagonismo a Israel.
Do petróleo ao confronto direto: como a relação degringolou
Ainda que a Revolução de 1979 tenha marcado o fim da amizade entre os dois países, a hostilidade foi se aprofundando com o passar dos anos. Um dos episódios que consolidaram o afastamento foi a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), quando Israel, de forma indireta, até ajudou o Irã ao enfraquecer o Iraque, seu inimigo à época.
Mas foi só após os anos 1990 que o confronto passou a ser mais direto. O avanço do programa nuclear iraniano, as declarações do governo de Teerã sobre a destruição de Israel e o crescente apoio a grupos armados tornaram a situação ainda mais delicada.
As tensões chegaram ao ápice em 2024 e 2025, com os ataques diretos entre os dois países. Primeiro, Israel lançou ofensivas contra alvos iranianos ligados ao programa nuclear e a líderes militares estratégicos. Em resposta, o Irã disparou mísseis em direção ao território israelense, num dos momentos mais tensos da história recente.
O risco de uma guerra ampla
Hoje, o mundo acompanha com preocupação o desenrolar dos acontecimentos. As potências internacionais tentam agir para evitar um conflito de grandes proporções, mas a rivalidade histórica, alimentada por décadas de desconfiança, ideologias extremas e disputas de poder, torna qualquer caminho para a paz extremamente complexo.
A crise atual não nasceu do nada. Ela é o resultado de um processo longo, com raízes profundas, que mistura política, religião, economia e geopolítica. Entender esse passado é fundamental para compreender os riscos do presente e os desafios que o futuro reserva para toda a região do Oriente Médio.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação