Ata do Copom revela preocupação com inflação persistente, expectativas desancoradas e incertezas externas, em meio ao maior juro desde 2006.
O Banco Central divulgou nesta terça-feira (24) a ata da reunião que levou a Selic ao maior patamar em quase duas décadas. O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros de 14,75% para 15% ao ano, numa tentativa de controlar a inflação que segue acima da meta estabelecida pelo governo.
A decisão, tomada nos dias 17 e 18 de junho, marca a sétima alta consecutiva da Selic e veio acompanhada de um tom de cautela. O comitê sinalizou uma possível pausa estratégica nas próximas reuniões, para avaliar os efeitos acumulados do aperto monetário sobre a economia.
Por que o Copom subiu a Selic?
O principal motivo para o aumento dos juros foi o avanço persistente da inflação, somado à desancoragem das expectativas do mercado. As projeções para o IPCA seguem distantes da meta de 3%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O próprio Banco Central prevê inflação de 4,9% em 2025 e 3,6% em 2026.
A inflação de serviços, puxada pelo mercado de trabalho ainda aquecido e pelo aumento da renda, também preocupa. Além disso, o crédito mais caro e o aumento do endividamento das famílias já indicam um freio gradual no consumo, um dos objetivos da alta dos juros.
Pressões internas e externas no radar do BC
No plano interno, o mercado de trabalho segue forte, com desemprego em níveis historicamente baixos e ganhos reais de renda superiores ao crescimento da produtividade. Já o crédito bancário começa a dar sinais de arrefecimento, com retração nas concessões e maior seletividade dos bancos.
O cenário fiscal também foi citado como fator de risco. Segundo a ata, o aumento do gasto público, a expansão do crédito direcionado e a falta de reformas estruturais podem dificultar o processo de controle da inflação.
No cenário externo, o documento aponta um ambiente de “incerteza e volatilidade”, com destaque para os efeitos das políticas comerciais do governo Trump, nos Estados Unidos, e para os riscos geopolíticos no Oriente Médio, que podem afetar o preço do petróleo e gerar novas pressões inflacionárias.
Mercado surpreendido e expectativa de pausa
A decisão de subir a Selic a 15% surpreendeu parte dos analistas. Segundo levantamento da Reuters, a maioria do mercado esperava a manutenção da taxa. No entanto, o Copom deixou claro que a prioridade agora é ancorar as expectativas de inflação, mesmo que isso custe uma desaceleração mais forte da economia.
Por outro lado, a sinalização de interrupção no ciclo de altas foi bem recebida por investidores e analistas. Relatórios de bancos como Itaú e XP apontam que o BC deve manter os juros elevados até ter sinais concretos de desaceleração da inflação, com possibilidade de cortes apenas em 2026.
O que esperar daqui para frente?
A ata reforça que a Selic deve permanecer em níveis contracionistas por um período prolongado, até que a inflação mostre sinais consistentes de convergência para a meta. O Banco Central promete manter vigilância total sobre os indicadores, atento tanto aos movimentos da economia brasileira quanto aos desdobramentos no cenário internacional.
Para os consumidores, os efeitos já começam a aparecer: crédito mais caro, consumo em queda e uma economia com ritmo mais lento. Os próximos meses serão decisivos para saber se a estratégia de manter os juros em 15% será suficiente para controlar a inflação; ou se novas medidas ainda mais duras serão necessárias.
Texto: Daniela Castelo Branco
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