Decano do Supremo afirma que nenhuma outra corte no mundo enfrentou ataques tão virulentos; declaração vem após Trump anunciar tarifa de 50% ao Brasil e criticar julgamento de Bolsonaro.
O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta quinta-feira (10) que a Corte brasileira tem sido alvo de ataques sem precedentes na história recente, em resposta direta ao contexto criado após a carta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciando uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.
Para Gilmar, os ataques vêm principalmente de grupos ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje investigado por envolvimento em uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. “Nenhuma outra Suprema Corte no mundo sofreu ataques tão virulentos à honra de seus magistrados, incluindo planos de assassinato arquitetados por facções de grupos eleitorais derrotados”, escreveu o ministro nas redes sociais.
A declaração reforça o posicionamento do Supremo em meio à crise diplomática criada após Trump classificar o julgamento de Bolsonaro como uma “vergonha internacional” e usar esse argumento para justificar as novas tarifas contra o Brasil. A medida entra em vigor em 1º de agosto.
Gilmar também voltou suas críticas às plataformas digitais e às grandes empresas de tecnologia, que segundo ele facilitaram o avanço de discursos extremistas no Brasil. “Grupos extremistas se valeram indevidamente da imunidade irrestrita das redes sociais para orquestrar ataques à democracia”, disse.
O ministro ainda acusou as empresas do setor de se oporem à modernização dos marcos regulatórios com base em “mentiras e narrativas alarmistas” e defendeu a regulação como forma de preservar a integridade do debate público e a segurança das instituições.
Na quarta-feira (9), Trump anunciou oficialmente a nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, alegando “déficits comerciais insustentáveis” com o país e fazendo críticas diretas ao STF por supostamente perseguir Bolsonaro. O governo brasileiro respondeu por meio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que afirmou que a medida será enfrentada com base na Lei de Reciprocidade Econômica.
Lula também reafirmou que o julgamento de Bolsonaro é assunto exclusivo da Justiça brasileira e que o país “não aceitará qualquer tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
As falas de Gilmar Mendes e de outros ministros, como Luís Roberto Barroso, que também se pronunciou em defesa do STF no domingo (13), marcam uma reação coordenada da Corte diante do cenário internacional e das tensões geradas pelo envolvimento do ex-presidente Bolsonaro nos desdobramentos políticos e econômicos que agora extrapolam as fronteiras brasileiras.
Texto: Daniela Castelo Branco
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