Aliados de Sérgio Gonçalves denunciam perseguição e uso da máquina pública; clima lembra tragédia eleitoral de 1990 com morte de Olavo Pires.
A crise política no governo de Rondônia ganhou contornos explosivos nos bastidores após declarações públicas do vice-governador Sérgio Gonçalves, que passou a ser alvo de um suposto processo de desgaste orquestrado dentro da própria gestão. Conforme apuração, há uma ordem velada no núcleo mais próximo do governador Marcos Rocha (União Brasil): “tirar Sérgio do jogo, custe o que custar.”
De acordo com fontes ligadas ao alto escalão do governo, há movimentações para inviabilizar politicamente o vice-governador até abril de 2026, quando Rocha deverá se afastar do cargo para viabilizar a candidatura da primeira-dama, Luana Rocha, a deputada federal. Com isso, Sérgio assumiria o comando do Executivo, ganhando visibilidade e força eleitoral; algo que incomoda o projeto familiar de poder.
Pressão, dossiês e medo
Ainda segundo relatos, dossiês estariam sendo preparados para vincular Sérgio a irregularidades durante sua gestão à frente de uma secretaria estadual que comandou por mais de seis anos. A tentativa seria criar narrativas e factoides para minar sua imagem, utilizando inclusive a estrutura do próprio governo para embasar ações judiciais ou midiáticas.
As ameaças veladas já teriam ultrapassado o campo político. Sérgio Gonçalves estaria temendo por sua integridade e da própria família, especialmente de seus pais, e já teria reforçado sua segurança pessoal após relatos de que estariam dispostos a “destruí-lo ou destruir sua família” para garantir que ele não assuma o governo.
A gravidade da situação levou interlocutores do vice a acionar o Ministério Público e cogitar representação à Polícia Federal, uma vez que o uso da máquina pública para perseguição política é um crime gravíssimo e anti-republicano.
Fantasmas do passado
A tensão revive um dos episódios mais traumáticos da política rondoniense: o assassinato do empresário e candidato ao governo Olavo Pires, em 1990, em meio à disputa pelo poder. À época, a comoção tomou conta do estado, e o crime permanece como um símbolo do quanto os interesses políticos, quando levados ao extremo, podem gerar tragédias.
Comparações com aquele período voltam à tona, agora com um enredo que mistura ambição, interesses familiares, uso de poder institucional e risco pessoal.
Um jogo sem vencedores
A tentativa de aniquilar adversários internos revela a face mais sombria da política: aquela em que o poder se sobrepõe à ética, à democracia e ao bom senso. Chamar Sérgio Gonçalves de “traidor” apenas por contrariar interesses pessoais dentro do governo, como apontam aliados, é um retrato do autoritarismo camuflado sob a aparência de estabilidade institucional.
Se as denúncias se confirmarem, será necessário agir com urgência para preservar não apenas a integridade do vice-governador e sua família, mas também a saúde democrática de Rondônia, que não pode aceitar retrocessos a qualquer preço.
No fim, como em toda guerra política rasteira, não haverá vencedores, apenas perdedores. E o maior deles será, como sempre, o povo rondoniense.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/Painel Político