Especialistas apontam que país poderia adotar postura mais estratégica na geopolítica, preservando interesses comerciais com ambas as potências.
O Brasil tem enfrentado pressões crescentes no cenário internacional e parte disso pode ser atribuído à falta de habilidade diplomática para equilibrar suas relações com os Estados Unidos e também com a China. A avaliação é de analistas de política externa, que apontam erros estratégicos nas escolhas recentes do governo brasileiro em matéria de comércio e posicionamento geopolítico.
Segundo especialistas ouvidos, o país poderia manter boas relações com a China sem romper ou enfraquecer seus laços com os EUA, assim como fazem a Índia e vários países europeus. Essas nações, mesmo com divergências ideológicas e geopolíticas com Pequim, conseguem manter laços comerciais sólidos e relações diplomáticas estáveis com Washington.
A crise atual reflete, em parte, uma condução pouco hábil das negociações bilaterais, especialmente diante da crescente pressão econômica dos Estados Unidos sobre o Brasil, que se intensificou após a popularização do Pix: sistema de pagamentos instantâneos que incomoda gigantes financeiras norte-americanas.
Falta de diálogo em temas sensíveis
Um dos pontos mais delicados nas relações com os EUA tem sido o debate sobre redes sociais e liberdade de expressão. A discussão, que envolve o funcionamento das big techs e a regulação de plataformas digitais no Brasil, poderia, segundo analistas, ter sido tratada de maneira mais cuidadosa. Em vez disso, houve enfrentamentos diretos com empresas norte-americanas, o que impactou negativamente a relação com a Casa Branca.
Além disso, o Brasil parece ter perdido oportunidades importantes de cooperação comercial e tecnológica com os Estados Unidos, ao priorizar alianças que, embora relevantes, não garantiram ganhos proporcionais. O envolvimento com o Brics, por exemplo, não trouxe resultados expressivos para o país no curto prazo, nem em termos de investimentos, nem de ganhos comerciais.
Na avaliação de especialistas em diplomacia econômica, o Brasil precisa retomar uma postura de equilíbrio e pragmatismo, adotando uma política externa que valorize o diálogo e saiba preservar interesses comerciais estratégicos com as maiores potências globais, sem abrir mão da soberania, mas também sem isolar o país das oportunidades.
Texto: Daniela Castelo Branco
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