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Empresariado vê operação da PF como obstáculo à negociação do tarifaço com os EUA

Apreensão entre empresários cresce diante de embate político com Trump e temor de uso político do setor privado pelo governo.

A operação da Polícia Federal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes nesta sexta-feira (18), foi recebida com preocupação por representantes do setor produtivo que participam das negociações para reverter o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos brasileiros.

Empresários ouvidos pela CNN avaliaram que a ação, embora legal, poderia ter sido evitada ou adiada, especialmente em um momento em que as tensões com os Estados Unidos já dificultam o diálogo diplomático e comercial. Para eles, o momento aumenta o desgaste e amplia as dificuldades nas tratativas com a Casa Branca.

A percepção predominante é de que o episódio fortalece o discurso da defesa de Bolsonaro sobre suposta perseguição política, o que pode repercutir negativamente fora do país. Um dos empresários chegou a dizer que o episódio pode acabar “reforçando dúvidas sobre a imparcialidade do STF” na arena internacional.

Três focos simultâneos de tensão

Segundo um dos representantes do setor privado que atua nas negociações com o governo, há três frentes de tensão que se sobrepõem:

  • A celeridade no processo contra Bolsonaro, interpretada por setores do empresariado como precipitada diante da complexidade da situação diplomática;
  • A retórica do presidente Lula contra Donald Trump, vista como provocativa, inclusive por parte de assessores internacionais do próprio governo;
  • A resistência dos Estados Unidos em abrir precedentes que favoreçam países em disputa tarifária, o que poderia estimular pressões semelhantes de outras nações.

Risco de fracasso e transferência de culpa

Executivos também relataram preocupação de que, caso a tentativa de negociação fracasse, o governo possa transferir a culpa ao setor privado, que até agora tem sido chamado a atuar ao lado do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento.

Há também o temor de uso político da pauta comercial, com o governo colhendo dividendos eleitorais ao responsabilizar Bolsonaro pelo insucesso das tratativas. “O risco é que, no fim, a conta caia em cima do setor produtivo, que pouco tem a ver com esse embate político-ideológico”, avaliou um empresário.

Um negociador afirmou à CNN que, com os fatos recentes, Trump tende a ser “implacável” com o Brasil. “A tendência é ele usar o episódio para endurecer ainda mais sua posição”, disse, mencionando que isso poderia inviabilizar qualquer abertura de diálogo nos próximos meses.

A avaliação geral é que a condução do caso por parte do governo carece de estratégia clara e pode comprometer o desempenho econômico de setores inteiros, como o químico, o do cacau, o de insumos agrícolas e o têxtil, caso o tarifaço se mantenha a partir de 1º de agosto.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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