Presidente critica tarifa de 50% sobre produtos brasileiros e diz que Brasil quer comércio, não confronto.
A poucos dias da entrada em vigor da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo público ao presidente norte-americano Donald Trump, pedindo diálogo e bom senso. Durante a inauguração da Usina Termelétrica GNA II, no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, Lula pediu que Trump “reflita sobre a importância do Brasil” e evite medidas unilaterais que possam comprometer as relações comerciais entre os dois países.
“Espero que o presidente dos Estados Unidos reflita a importância do Brasil e resolva fazer o que, num mundo civilizado, a gente faz: tem divergência? Senta numa mesa, coloca as cartas e vamos resolver. Não de forma abrupta, como se fosse uma imposição pessoal”, afirmou.
Para Lula, a origem da crise é política, e tem nome e sobrenome. Ele responsabilizou diretamente o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA desde março, e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por incentivarem a medida adotada por Trump.
“Isso é o filho do coisa e o coisa que estão pedindo pra fazer”, disparou o petista. “Eles faziam campanha embrulhados na bandeira, gritavam ‘Brasil acima de tudo’, mas agora fazem o jogo dos Estados Unidos. É uma falta de vergonha, de caráter e de patriotismo”, completou.
Negociação em compasso de espera
O governo brasileiro tenta, até o último momento, reverter o chamado “tarifaço”, anunciado por Trump no dia 9 de julho. A medida deve entrar em vigor já nesta sexta-feira (1º), e afeta diretamente setores estratégicos da economia nacional. Apesar das tentativas de negociação, lideradas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, até agora não houve avanços concretos.
Na semana passada, Alckmin conversou por cerca de 50 minutos com o secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, tentando convencer os EUA a rever a decisão. O apelo, no entanto, não surtiu efeito. No domingo (27), Lutnick foi categórico ao afirmar que não haverá prorrogações.
“Dia 1º de agosto. As tarifas estão definidas. Elas entrarão em vigor, a alfândega começará a cobrar, e lá vamos nós”, disse o secretário em entrevista à Fox News Sunday.
Apesar do tom duro, Lutnick deixou aberta uma porta para o diálogo: “Mesmo após o início das tarifas, as pessoas ainda podem conversar com o presidente Trump. Ele está sempre disposto a ouvir. Se conseguirão agradá-lo, é outra história.”
Brasil prega serenidade
Nesta segunda-feira (28), Lula classificou a situação como “muito triste” e voltou a reforçar a disposição do Brasil para negociar.
“Com muita tranquilidade, o Brasil quer negociar. Não temos contencioso com ninguém. A gente não quer briga, a gente quer fazer comércio”, declarou.
A expectativa agora é sobre os próximos movimentos da diplomacia brasileira, que atua sob forte pressão às vésperas da entrada em vigor da medida. O governo afirma que não aceitará qualquer interferência que fira a soberania nacional, mas ainda aposta no diálogo como caminho para evitar o agravamento da crise.
Texto: Daniela Castelo Branco
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