Advogado diz que aproximação do Brasil com China e críticas ao domínio do dólar influenciaram medida; recomendação é que Lula fale diretamente com o presidente dos EUA.
A imposição da tarifa de 50% contra produtos brasileiros, anunciada pelo presidente Donald Trump e prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto, não teria uma única motivação, mas sim um conjunto de fatores geopolíticos e econômicos. É o que afirmou o advogado e lobista Brian Ballard, aliado próximo do republicano e arrecadador oficial de sua campanha à reeleição, em entrevista à CNN Brasil.
Segundo Ballard, a decisão de Trump é resultado de uma “combinação de tudo”: a participação ativa do Brasil no Brics, a relação próxima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o líder chinês Xi Jinping, e as declarações feitas pelo petista em defesa do uso de moedas locais no comércio internacional, em detrimento do dólar.
“O presidente [Trump] vê o governo brasileiro como não tão pró-Estados Unidos como já foi no passado e como deveria ser”, afirmou. “Então, ele tem várias ferramentas que pode usar para tentar alcançar o que ele considera serem resultados mais justos.”
Durante a Cúpula do Brics, realizada no Rio de Janeiro no início de julho, Lula voltou a defender a criação de mecanismos que reduzam a dependência do dólar nas transações comerciais entre os países do bloco. A proposta, que conta com apoio firme de China e Rússia, acende alertas em Washington, especialmente em um ano eleitoral.
Carta com recado direto
No último dia 9, Trump já havia citado outra justificativa para a tarifa, em uma carta endereçada diretamente a Lula e publicada na rede Truth Social. Nela, o republicano acusou o Supremo Tribunal Federal de promover perseguição política contra Jair Bolsonaro (PL) e chamou a relação comercial com o Brasil de “muito injusta”, citando desequilíbrios tarifários, barreiras comerciais e medidas não-tarifárias.
Recomendações para o Brasil
Para evitar um agravamento da crise diplomática, Ballard orientou o governo brasileiro a buscar contato direto com Trump e seus principais assessores. “Eu faria tudo o que pudesse para falar diretamente com o presidente e sua equipe sênior, o secretário [do Comércio] Lutnick, o secretário do Tesouro, o representante comercial, todos eles”, sugeriu.
Ele descreveu Trump como um negociador “duro, mas justo”, e reforçou que o republicano prefere lidar com líderes de forma pessoal. “Trump adora conversar diretamente”, afirmou.
Cenário ainda indefinido
Enquanto isso, o Palácio do Planalto tenta conter os efeitos políticos e econômicos da medida. Uma comitiva de senadores está nos Estados Unidos em busca de apoio no Congresso americano, mas o impasse continua.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, esteve no país para uma cúpula diplomática, mas não conseguiu agenda com representantes do governo Trump para tratar diretamente do tarifaço.
Resta saber se o conselho do aliado influente será seguido e se uma conversa direta com Trump poderá mudar os rumos dessa disputa tarifária com alto teor geopolítico.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN