Renovação de dois terços da Casa nas próximas eleições pode redefinir forças, mas cenário atual favorece freio à pauta da oposição.
A oposição ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes sabe que, por enquanto, a matemática não joga a seu favor. Embora já tenha o número de assinaturas para iniciar um processo de impeachment, falta apoio suficiente para levá-lo até o fim. E o maior obstáculo está justamente entre senadores que só deixarão o cargo após as eleições de 2026; grupo que reúne dois terços da Casa.
Levantamento feito pela plataforma “Voto Senadores”, usada para pressionar parlamentares, aponta que, entre os 54 senadores com mandato até 2026, 56% são contrários ou estão indefinidos sobre o afastamento de Moraes, enquanto 44% se declaram a favor. Já no bloco com mandato até 2030, o apoio cresce: 63% defendem o impeachment.
O tema ganhou força na oposição depois de novas decisões de Moraes contra Jair Bolsonaro (PL) e aliados, em inquéritos que investigam desde suposta tentativa de golpe em 2022 até violações de medidas cautelares. Parlamentares críticos ao ministro acusam-no de extrapolar suas funções, de atrasar conclusões de investigações e de praticar censura prévia.
Apesar do barulho político, o rito de impeachment no Senado é rigoroso. O processo só anda se o presidente da Casa, hoje Davi Alcolumbre (União-AP), aceitar a denúncia. Daí, é formada uma comissão especial, que precisa aprovar um parecer e levá-lo ao plenário. Para abrir o julgamento, são necessários 41 votos favoráveis; para destituir, 54. Nunca, desde a redemocratização, um ministro do STF foi afastado por impeachment.
O cálculo político já mira 2026, quando dois terços do Senado serão renovados. Para Bolsonaro e seus aliados, essa é a chance de ampliar o apoio à pauta. Em protestos, o ex-presidente já pediu maioria no Congresso para “mudar o destino do Brasil”. Seu filho, Eduardo Bolsonaro, chegou a afirmar que a nova composição aumentaria a possibilidade de afastar Moraes.
Do outro lado, o presidente Lula (PT) também tem 2026 no radar. Ele alertou que, se a esquerda não conquistar mais cadeiras, a oposição poderá “avacalhar” o STF. O centrão, por sua vez, mantém o papel de fiel da balança, com nomes como Alcolumbre classificados como indefinidos e capazes de decidir o destino da pauta.
No fundo, a disputa pelo impeachment de Moraes não é só sobre o presente: é uma batalha pelo futuro político e institucional do país, que passa pelo resultado das urnas daqui a pouco mais de um ano e meio.
Texto: Daniela Castelo Branco
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