Relatório revela racha na direita, influência de Silas Malafaia e tensão entre Jair e Eduardo Bolsonaro.
As 170 páginas do relatório da Polícia Federal divulgadas na noite desta quarta-feira (20) jogam luz sobre os bastidores mais íntimos do bolsonarismo, revelando uma mistura de conflitos familiares, estratégias políticas e disputas internas que até agora permaneciam ocultas. Entre mensagens ríspidas e cobranças diretas, fica claro que nem mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguiu manter firmeza diante dos arroubos do filho Eduardo.
Aliados do ex-presidente classificaram o conteúdo como “vazamento político”, reconhecendo o impacto midiático do documento, mas minimizando seu efeito jurídico. Segundo o entorno da família, o relatório chega às vésperas do julgamento da trama golpista marcado para setembro e serve mais como espetáculo para os adversários do que como ferramenta de punição.
O ponto mais sensível são as trocas de mensagens entre pai e filho. Eduardo Bolsonaro, irritado com elogios do pai ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), escreveu em tom explosivo: “Se o imaturo do seu filho de 40 anos não puder encontrar com os caras aqui, PORQUE VC ME JOGA PRA BAIXO, quem vai se foder é vc.” Bolsonaro respondeu com áudios que a PF não conseguiu recuperar, e o filho insistiu em mais cobranças.
O relatório mostra ainda o ciúme de Eduardo em relação a Tarcísio, sua desconfiança quanto aos planos para 2026 e o incômodo com a interlocução do governador paulista com o STF. Em um trecho, o deputado critica: “Tarcísio nunca te ajudou em nada no STF. Sempre esteve de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026.”
Além das tensões internas, as conversas revelam preocupação com a relação do Brasil com os Estados Unidos. Eduardo alerta que uma “anistia light” poderia afastar o apoio americano e pressiona o pai a agir rápido diante de declarações de Donald Trump: “Você não vai ter tempo de reverter se o cara daqui virar as costas para você. Aqui é tudo muito melindroso, qualquer coisinha afeta.”
Entre os diálogos, Eduardo também tranquiliza o pai quanto a possíveis consequências legais: “Você nem precisa se preocupar com cadeia, você não será preso. Mas tenho receio que, por aqui, as coisas mudem.” Mesmo assim, Bolsonaro acabou cumprindo prisão domiciliar em 4 de agosto, por descumprir medidas cautelares, usando tornozeleira eletrônica desde 18 de julho.
O relatório da PF revela, de forma inédita, a complexidade das relações e estratégias dentro do bolsonarismo, expondo tanto fragilidades familiares quanto o jogo político da direita brasileira às vésperas de decisões judiciais e manifestações marcadas no calendário nacional.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação