Enquanto o STF e o Congresso travam disputas de poder, o Executivo assume papel secundário e o Brasil gira em falso.
O jornalista Willian Waack, durante a programação da CNN Brasil, nesta terça-feira (13), analisou a situação que o país enfrenta no atual cenário político em que o embate entre os Poderes, segundo ele, faz com que a nação gire em falso: preso a disputas corporativas, horizontes curtos e uma política que, em vez de avançar, caminha sem sair do lugar.
Em sua fala, o apresentador comentou que é praticamente impossível conter o conflito permanente entre os dois principais Poderes políticos do país: o Judiciário e o Legislativo. O embate, que vem se intensificando nos últimos anos, ganhou mais um capítulo nesta semana, com o presidente da Câmara dos Deputados buscando o Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer valer uma decisão da própria Casa: a suspensão de uma ação penal contra um deputado acusado de participar de uma tentativa de golpe de Estado.
Ainda de acordo com Waack, trata-se de mais do que uma simples disputa pontual. O que está em jogo é o entendimento do Congresso de que a punição de seus membros deve ser decidida internamente, sem interferência da Corte. Soma-se a isso a irritação antiga do Legislativo com o Supremo, especialmente desde que o tribunal passou a regular, por exemplo, o modelo de distribuição das emendas parlamentares.
De outro lado, o STF não dá sinais de recuar para o que seria considerado um “ponto de equilíbrio anterior”, quando sua atuação era mais contida no campo político. Pelo contrário: a Corte continua atuando de forma protagonista, ampliando sua influência nos rumos do país, algo que agrada a uns e preocupa a outros, sobretudo no Congresso.
Nesse cenário de disputas, o Executivo assumiu um papel cada vez mais secundário. Perdeu força, depende do Judiciário para manter sua estabilidade e tem pouca capacidade de influenciar esse embate entre os outros dois Poderes.
Por fim, ao seu ver, o jornalista resumiu o contexto atual afirmando que apesar das declarações públicas em defesa da harmonia institucional — seja do presidente da República, dos ministros do Supremo ou dos chefes das Casas legislativas —, o que se vê na prática é uma política que vive de si mesma, sem foco real nos grandes temas nacionais. O discurso sobre estabilidade institucional contrasta fortemente com a paralisia decisória e os conflitos constantes.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN
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Veja na íntegra a análise do jornalista Willian Waack:
“Waack: País gira em falso na briga sem fim entre os Poderes
Nesse nosso novo normal, o papel júnior tem sido o do Executivo; perdeu poderes, depende bastante do Judiciário e pouco consegue moldar esse embate
É praticamente impossível parar a grande treta entre os dois maiores Poderes políticos no Brasil. A saber: Judiciário e Legislativo.
Observem o que o presidente da Câmara fez hoje: entrou no STF para prevalecer uma votação na Câmara, suspendendo uma ação penal contra um deputado. No caso, um deputado da oposição acusado de participação em trama golpista.
A queda de braço é maior do que parece e vai além de manobras para facilitar anistias políticas ou a vida de Jair Bolsonaro, por exemplo.
O que move o Legislativo, num claro embate com o Judiciário, é afirmar que a punição de parlamentares é assunto deles mesmos, e não dos juízes da Suprema Corte. Além do fato de que o Legislativo não engoliu jamais o Judiciário regulando modalidades das emendas parlamentares.
Do seu lado, por motivos vários, o STF não parece nem um pouco disposto a voltar para tempos “normais”, quando não estava tão envolvido em política.
Nesse nosso novo normal, o papel júnior tem sido o do Executivo. Perdeu poderes, depende bastante do Judiciário e pouco consegue moldar esse embate.
Ministros do Supremo, chefes das casas legislativas e o próprio presidente da República reiteram que as instituições funcionam, em forte contraste com a realidade política.
Pronunciam palavras grandiloquentes sobre a necessidade de se discutir os grandes temas nacionais. Mas o que temos são horizontes curtos, discussões inúteis e a política vivendo para ela mesma. Marchando rigorosamente no mesmo lugar”.