Militares, ex-ministros e diretores de inteligência formam o núcleo central apontado como responsável por articular plano para manter o ex-presidente no poder.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu nesta segunda-feira (14) a condenação de Jair Bolsonaro (PL) e mais sete integrantes do seu núcleo de confiança, acusados de integrar um plano golpista para reverter o resultado das eleições de 2022 e manter o ex-presidente no poder. O parecer, assinado pelo procurador-geral Paulo Gonet, detalha a atuação coordenada do grupo, formado por militares da reserva, ex-ministros e autoridades da área de inteligência.
Segundo o Ministério Público, esse núcleo foi o coração da articulação antidemocrática, que envolveu elaboração de decretos inconstitucionais, pressão sobre as Forças Armadas, uso da máquina pública e incentivo à mobilização popular contra o resultado das urnas.
Veja quem são os nomes que, ao lado de Bolsonaro, formam o chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe:
1. Mauro Cid
Tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid é um dos personagens centrais do processo. Sua delação premiada, firmada em 2023, serviu de base para diversas acusações. Segundo ele, Bolsonaro editou uma minuta de decreto que previa a instalação de um Estado de Exceção, além de pressionar comandantes militares. Disse ainda que sabia da ausência de provas de fraude nas urnas, mas mesmo assim incentivou a desinformação.
2. Walter Braga Netto
General da reserva e ex-ministro da Defesa, Braga Netto foi o candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. De acordo com a PGR, participou diretamente do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa até o assassinato de Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. Ele também teria levantado recursos para os acampamentos golpistas e pressionado a cúpula das Forças Armadas. Está preso preventivamente desde dezembro de 2024.
3. Alexandre Ramagem
Deputado federal (PL-RJ) e ex-diretor da Abin, é acusado de usar a agência de inteligência para criar uma “Abin paralela”, com o objetivo de municiar Bolsonaro com informações que desacreditassem o sistema eleitoral. O Congresso já suspendeu parte da ação penal contra ele, mas ainda responde por crimes graves no processo.
4. Almir Garnier
Almirante que comandou a Marinha durante o governo Bolsonaro, foi o único integrante das Forças Armadas que teria aderido formalmente ao plano de golpe, segundo a PGR. Ele teria colocado tropas à disposição do ex-presidente e assinou nota em apoio aos acampamentos golpistas.
5. Anderson Torres
Ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF, Torres é acusado de omissão nos atos de 8 de janeiro e de ter facilitado ações da PRF para dificultar o voto em regiões adversas a Bolsonaro. Em sua casa, foi encontrada uma minuta de decreto que permitiria a intervenção no Judiciário e na eleição.
6. Augusto Heleno
General da reserva e ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Heleno teria atuado diretamente na disseminação de desinformação sobre o sistema eleitoral. A PGR afirma que ele integrava o gabinete de crise golpista, que seria ativado caso o plano fosse adiante.
7. Paulo Sérgio Nogueira
Ex-comandante do Exército e ministro da Defesa nos últimos meses do governo Bolsonaro. É acusado de buscar apoio entre os comandos militares e de contribuir para espalhar dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas, reforçando o clima de instabilidade institucional.
Com a entrega das alegações finais pela PGR, o processo agora aguarda manifestações das defesas dos réus. O ministro Alexandre de Moraes, relator da ação no Supremo Tribunal Federal, deverá abrir prazo de 15 dias para os últimos depoimentos. Depois disso, o julgamento pode ser pautado.
Se condenados, os envolvidos podem pegar penas superiores a 40 anos de prisão. O caso é considerado um dos mais graves da história democrática brasileira e pode ter consequências políticas, institucionais e jurídicas profundas para os acusados, especialmente para Jair Bolsonaro, que já está inelegível e agora pode enfrentar uma longa pena de reclusão.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação