Entidades do setor produtivo criticam decisão do Banco Central e apontam riscos para investimento, produção e geração de empregos no Brasil
A nova alta da taxa Selic, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) nesta quarta-feira (18), pegou de surpresa representantes da indústria, comércio e setor de serviços. O aumento de 0,25 ponto percentual, levando a taxa básica para 15% ao ano, gerou forte reação das entidades, que agora ligam o sinal de alerta para os impactos que a medida pode ter sobre a produção, os investimentos e o consumo.
Indústria teme freio na economia
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), Flávio Roscoe, foi direto: a decisão pode “restringir ainda mais os investimentos produtivos, ampliar os custos de produção, reduzir a competitividade da indústria brasileira e afetar a geração de empregos e renda das famílias”.
Segundo ele, o momento exige medidas mais equilibradas, que conciliem o controle da inflação com a necessidade de desenvolvimento industrial. “Estamos vendo os efeitos de uma política monetária excessivamente restritiva sobre a economia real”, destacou Roscoe.
Comércio critica medida em meio a cenário internacional incerto
Do lado do comércio, o tom também foi de crítica. A Associação Paulista de Supermercados (APAS) classificou a decisão como “não assertiva”, especialmente diante de um cenário internacional marcado por protecionismo, tensões geopolíticas e desafios ao crescimento global.
“Prejudicamos os investimentos de médio e longo prazo, encarecemos os custos de produção, desestimulamos o consumo das famílias e travamos a atividade econômica. Não há justificativa para uma taxa de juros nesse patamar”, afirmou a entidade.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) seguiu na mesma linha. O presidente da instituição, Ricardo Alban, afirmou que a nova elevação “não condiz com o cenário atual”, citando a já visível desaceleração da inflação e a fragilidade dos setores produtivos, pressionados por uma carga tributária sufocante.
Surpresa também na análise econômica
O economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Ulisses Ruiz de Gamboa, destacou que o mercado estava dividido antes do anúncio: parte esperava nova alta, mas outra apostava na manutenção da Selic.
Gamboa reconhece que a inflação subjacente ainda preocupa, mas pondera que “em um contexto de expansão fiscal e expectativas inflacionárias desancoradas, a política monetária contracionista traz efeitos colaterais pesados para o setor produtivo e o emprego”.
BC sinaliza juros altos por mais tempo
Em comunicado, o Banco Central indicou que a taxa de 15% deverá permanecer por um “período bastante prolongado”, mas deixou uma porta aberta para novos ajustes caso considere necessário. O Copom reforçou que “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, mantendo o tom de vigilância em relação à inflação.
Já a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) avaliou que o Copom poderia ter esperado novos dados econômicos antes de avançar com a alta.
“A manutenção ou queda da taxa de juros só será viável se o governo conseguir construir uma política fiscal mais equilibrada; o que não parece estar no horizonte imediato”, destacou a FecomercioSP, apontando que a inflação pode voltar a pressionar nos próximos meses caso o quadro fiscal continue se deteriorando.
Impacto direto no dia a dia
Para o consumidor final, a elevação dos juros significa, na prática, crédito mais caro, menor acesso a financiamentos, retração no consumo e freio na geração de empregos. O setor produtivo já fala em risco de estagnação econômica caso a taxa permaneça nesse patamar por muito tempo.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação