Importações do combustível dispararam após a guerra na Ucrânia, e pressão dos EUA pode afetar diretamente o Brasil; Petrobras projeta quase independência no setor nos próximos anos.
Quando uma ameaça cruza o oceano e bate à nossa porta, é impossível não se perguntar: estamos preparados? A recente ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra países que continuam importando petróleo e derivados da Rússia reacendeu os holofotes sobre uma realidade pouco conhecida por muitos brasileiros: a explosão da compra de diesel russo desde o início da guerra na Ucrânia. E o Brasil, protagonista dessa movimentação, está no centro das tensões.
Os números impressionam: em 2021, o Brasil importou apenas US$ 16,9 milhões em diesel vindo da Rússia. Em 2024, esse valor saltou para US$ 5,3 bilhões. Ou seja, a dependência do combustível russo aumentou mais de 300 vezes em três anos. Apenas no primeiro semestre de 2025, as compras já somam US$ 2,5 bilhões.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), o Brasil reduziu as importações totais de diesel ao mesmo tempo em que substituiu fornecedores tradicionais pelo óleo russo, beneficiando-se dos preços mais competitivos em razão das sanções impostas pela Europa ao Kremlin.
Mas esse caminho mais barato pode custar caro. Trump publicou recentemente um decreto tarifando em 25% os produtos da Índia, com a justificativa de que o país continua adquirindo petróleo russo. O alerta foi dado também ao Brasil: congressistas norte-americanos sinalizaram que a continuidade desse tipo de importação poderá resultar em sanções similares por parte dos EUA.
Diante desse cenário, o país volta os olhos para dentro; mais precisamente para a Petrobras, que tenta puxar o Brasil para longe da dependência externa. A presidente da estatal, Magda Chambriard, afirmou que o Brasil deverá se aproximar da autossuficiência em óleo diesel até 2029. O objetivo é claro: depender menos do exterior e resistir melhor às pressões externas.
Hoje, a produção nacional de diesel atende entre 75% e 80% da demanda interna, sendo a maior parte refinada pela própria Petrobras. A empresa tem planos ambiciosos: pretende adicionar capacidade de refino de mais 200 mil barris por dia até o final da década. A Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo de Energias Boaventura, no Rio de Janeiro, estão entre os principais investimentos da companhia.
Além disso, o plano prevê ampliar a produção de diesel S10, menos poluente e fortalecer alternativas como o biodiesel (que terá mistura aumentada para 15%) e o diesel R, feito a partir de fontes vegetais e animais.
O recado está dado. Em um mundo onde decisões políticas impactam diretamente a economia e o abastecimento energético, o Brasil se vê desafiado a equilibrar diplomacia, estratégia comercial e investimentos internos. E, para isso, tornar-se quase autossuficiente não é apenas um objetivo, é uma necessidade vital.
Texto: Daniela Castelo Branco
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