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Após ameaça de sanções dos EUA, STF investiga Eduardo Bolsonaro por ataque ao Estado de Direito

Decisão de Alexandre de Moraes atende pedido da PGR, que vê tentativa de abolição do Estado Democrático e coação contra o Judiciário. O caso acirra a tensão internacional após declarações de autoridades dos EUA.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (26) a abertura de um inquérito contra o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). A decisão veio após a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontar indícios de que o parlamentar tenta, a partir dos Estados Unidos, abalar a ordem democrática no Brasil por meio de ameaças, coação e busca por sanções internacionais contra autoridades brasileiras.

A medida acontece em meio a um episódio que elevou a tensão diplomática: o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou, durante uma audiência na Câmara dos Representantes americana, que o ministro Moraes pode ser alvo de sanções por supostos abusos contra empresas de tecnologia e restrições à liberdade de expressão no Brasil

. A declaração deu força à movimentação internacional liderada por Eduardo Bolsonaro, que se licenciou do mandato para viver nos Estados Unidos e, segundo ele, atuar em defesa das “liberdades dos brasileiros”.

Para o Ministério Público Federal, no entanto, a atuação do parlamentar tem outro propósito: obstruir investigações que envolvem diretamente seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no processo que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022. A PGR classifica a conduta como um ataque ao funcionamento do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público, o que configura, segundo o órgão, um atentado contra o Estado Democrático de Direito.

Na decisão, Moraes afirma que Eduardo Bolsonaro será investigado por três crimes:

  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito – quando se tenta, com violência ou grave ameaça, impedir o funcionamento dos Poderes da República;
  • Coação no curso do processo – uso de ameaça para interferir no andamento de processos judiciais;
  • Obstrução de investigação penal envolvendo organização criminosa – tentativa de atrapalhar investigações de crimes praticados por grupos organizados.

A pena combinada para esses crimes pode chegar a até 20 anos de prisão.

O ministro também autorizou a Polícia Federal a monitorar e preservar todas as publicações do deputado nas redes sociais, apontadas pela PGR como provas da tentativa de pressionar o Judiciário. Além disso, determinou que sejam ouvidos, no prazo de dez dias, o ex-presidente Jair Bolsonaro que, segundo o despacho, pode ser o responsável financeiro pela permanência do filho nos EUA e o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), autor da representação que deu origem à investigação.

A tensão escalou após declarações de Eduardo, que comemorou publicamente a possibilidade de sanções contra Moraes. “Após sancionado Alexandre de Moraes, a gente vai ver um ambiente muito melhor no Brasil”, disse o parlamentar em entrevista à Revista Oeste. Ele ainda comparou sua atuação à campanha internacional pelo “Lula Livre” quando o atual presidente estava preso, questionando por que, naquele momento, não se falou em interferência externa.

Nas redes sociais, Eduardo reagiu à abertura do inquérito acusando a PGR de agir politicamente e reforçou críticas ao STF: “No Brasil há um Estado de exceção. A ‘justiça’ depende do cliente. O processo depende da capa”, escreveu.

A Advocacia-Geral da União (AGU) celebrou a decisão. Segundo o ministro Jorge Messias, trata-se de uma medida “necessária e em boa hora”, diante do que classificou como tentativas de interferência no processo penal que envolve o ex-presidente e seus aliados.

A crise internacional envolvendo o Judiciário brasileiro e membros do Congresso, somada ao desgaste gerado pelas investigações de alegações de uma suposta tentativa de golpe de Estado, lança o país em um novo capítulo de instabilidade política, com repercussões que ultrapassam fronteiras.

O Itamaraty foi acionado por Moraes e deverá indicar diplomatas para prestar esclarecimentos no inquérito, evidenciando que o caso já não se restringe mais ao ambiente interno da política brasileira, mas avança para as relações exteriores do país.

Por: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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