Presidente Ahmed al-Sharaa afirma que não teme a guerra, mas prioriza a paz para proteger civis; ataques israelenses escalaram conflito envolvendo minorias étnicas e tensões regionais.
Em meio a uma escalada de tensões no sul da Síria, o governo do presidente interino Ahmed al-Sharaa decidiu retirar tropas da cidade de Suwayda após dias de confrontos sangrentos entre forças sírias, milícias drusas e tribos beduínas. A retirada ocorre após bombardeios israelenses à capital Damasco e a mediação de uma nova trégua com os drusos: uma minoria étnico-religiosa presente na Síria, Líbano e Israel.
O episódio marca mais um capítulo delicado no frágil cenário sírio, que tenta se reerguer após anos de guerra civil e instabilidade. Em discurso transmitido pela televisão na manhã desta quinta-feira (17), Sharaa afirmou que a Síria não teme a guerra, mas que o governo optou por colocar o bem-estar da população acima do caos. “Passamos a vida enfrentando desafios e defendendo nosso povo, mas colocamos os interesses dos sírios acima da destruição”, declarou.
Bombardeios e pressão internacional
Os ataques aéreos de Israel atingiram diversos prédios governamentais em Damasco, incluindo o Ministério da Defesa. Autoridades locais informaram que ao menos três pessoas morreram. Uma emissora síria chegou a exibir ao vivo o momento em que o prédio era bombardeado, obrigando o âncora a se abrigar.
Israel justificou os ataques como uma medida de proteção à comunidade drusa, que enfrenta repressão no sul do país. O governo israelense também exigiu a retirada total das forças sírias da região, afirmando que não permitirá ações militares contra os drusos.
Mesmo sob pressão dos Estados Unidos, que vêm tentando reintegrar a Síria ao cenário internacional após a queda do governo anterior, Israel intensificou os ataques, sinalizando um novo patamar de confronto direto com a administração de Sharaa.
Trégua sob desconfiança
A trégua anunciada com os drusos ainda é frágil. Um acordo anterior fracassou poucas horas após ser firmado, e importantes líderes da comunidade rejeitam o novo cessar-fogo. Em sua fala, o presidente sírio tentou acalmar os ânimos: “Temos duas opções: uma guerra aberta com Israel às custas de nossos cidadãos drusos, ou permitir que seus clérigos retornem à razão e priorizem o interesse nacional”.
Apesar do gesto, Sharaa não deixou de denunciar o que chamou de “tentativa israelense de semear a divisão”. Segundo ele, “a entidade israelense busca mais uma vez transformar nossa terra em um campo de batalha de caos e desmantelar a estrutura do nosso povo”.
Um país dividido
A Síria vive um momento sensível. Desde a ascensão do novo governo, liderado por islâmicos, setores da sociedade, especialmente minorias como os drusos e os alauítas, têm expressado desconfiança e receio de perseguições. Em março, a situação se agravou após relatos de assassinatos em massa de alauítas por milícias extremistas, fato que acendeu alertas internacionais.
Sharaa, ciente da desconfiança, prometeu proteger os direitos dos drusos e de todas as minorias. Mas os desafios são enormes: além de reconstruir o país, o novo governo precisa lidar com pressões externas, instabilidade interna e o risco constante de que o conflito volte a explodir, com consequências imprevisíveis para toda a região.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação