Militar teria enviado foto para provar que usava perfil falso; defesa nega veracidade das mensagens
O escândalo envolvendo o tenente-coronel Mauro Cid ganhou um novo capítulo com a divulgação de áudios e mensagens supostamente enviados por ele através do Instagram, mesmo durante o período em que estava proibido de acessar redes sociais por determinação judicial. As informações vieram à tona após o conteúdo ser disponibilizado no sistema interno do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (16).
Os áudios e capturas de tela foram revelados dias após a revista Veja publicar conversas mantidas por um perfil de nome feminino, identificado como @gabrielar702, com um interlocutor ainda não identificado. Agora, o advogado Eduardo Kuntz, que defende Marcelo Câmara; também réu na ação penal que apura o plano de golpe de Estado, confirmou ao STF que manteve contato com o perfil e que, na ocasião, teve a certeza de que falava com Cid.
Selfie para comprovar identidade
Para dissipar qualquer dúvida, Mauro Cid teria enviado a Kuntz uma selfie em modo de visualização única, na qual aparece fazendo um gesto de “joinha” com o polegar. A imagem teria sido enviada para garantir ao advogado que era realmente o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro quem estava por trás da conta @gabrielar702.

A revelação foi formalizada por Kuntz em um requerimento ao ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF. O episódio reforçou a suspeita de que Cid, mesmo proibido judicialmente, seguia ativo em redes sociais.
Desabafos e críticas a aliados políticos
Nos áudios, Cid desabafa sobre o que chama de abandono político e pessoal por aliados do campo bolsonarista. Um dos principais alvos de suas críticas é o presidente do PL, Valdemar Costa Neto.
“Valdemar deu entrevista, falou do Max, do Cordeiro e de mim. Ah, que legal, né? O Valdemar não defende o Max, o Cordeiro e também não nos defende. Então assim, é complicado, é complicado você se sentir isolado”, lamenta o militar.
“Perdi tudo” e comparações com Bolsonaro e generais
Cid também demonstrou amargura ao comparar sua situação com a de outros aliados de Bolsonaro:
“Braga Netto, quatro estrelas, chegou ao topo… reserva. General Heleno, chegou ao topo… reserva. Presidente, ganhou milhões aí em Pix, chegou ao topo. Tudo bem, todo mundo no mesmo barco. E quem que se f…? Quem perdeu tudo? Fui eu.”
Negativa sobre “golpe” em depoimento
O militar também alegou nunca ter utilizado a palavra “golpe” em seus depoimentos à Polícia Federal, embora o termo apareça com frequência nas peças do processo:
“Cara, vou te dizer, esse troço está entalado, cara. Está entalado. Você vê que o cara botou a palavra golpe, cara. Eu não falei uma vez a palavra golpe.”
Críticas às mídias de direita e sofrimento da família
Outro ponto dos áudios são as críticas às mídias sociais alinhadas à direita, que, segundo Cid, o atacavam sistematicamente:
“As próprias mídias sociais de direita são voláteis, né? Sai uma besteira na Veja, sai uma besteira no Globo, e aí começam a me atacar. Mas quando sai alguma coisa positiva que eu falei: ‘Tá vendo? O presidente é que não fez nada’. Só que, quando é pra criticar, me criticam.”
Em tom emocional, ele também relatou o sofrimento de sua família com a exposição e as investigações:
“Até me emociono quando eu falo, porque são coisas assim que é só quando a gente passa que a gente vê o problema mesmo… Uma coisa é você, a gente apanha, fica preso, mas quando a gente vê a família sofrendo por sua causa, aí o negócio pesa.”
Outro lado: defesa nega veracidade
A defesa de Mauro Cid, que é delator no processo, nega a autenticidade das mensagens e dos áudios revelados pela Veja e agora pelo STF. Segundo os advogados do militar, o conteúdo divulgado não seria verdadeiro.
Pedido de informações à Meta
Diante das novas evidências, o ministro Alexandre de Moraes determinou que a Meta, empresa responsável pelo Instagram, forneça ao STF os dados de registro do perfil @gabrielar702, com o objetivo de confirmar quem de fato estava por trás da conta.
A nova frente de investigação aumenta ainda mais a pressão sobre Mauro Cid, figura central nas apurações da tentativa de golpe e dos atos antidemocráticos que se desenrolaram após as eleições de 2022.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação