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Aumento do IOF amplia crise entre governo e Congresso 

Clima azeda entre Planalto e Câmara com críticas, ameaças de cortes e articulações contra aumento do imposto 

A relação entre o governo Lula e o Congresso subiu mais alguns graus na temperatura, e não foi de harmonia. A decisão do governo de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) em uma série de transações virou mais um ponto de tensão na já delicada negociação sobre a política fiscal. 

Nem mesmo o recuo parcial da Fazenda conseguiu apagar o incêndio. A crítica veio de todos os lados: oposição, setor produtivo e, o que mais preocupa o Planalto, até de aliados. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deu voz ao desconforto. De público, afirmou que o Brasil “não precisa de mais um imposto” e alfinetou o Executivo: “Não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar”. 

O desconforto transbordou para além da política. Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), Motta reforçou seu discurso, se apresentando como “defensor convicto da responsabilidade fiscal”; sinal claro de que o desgaste chegou também aos setores produtivos, que reagem mal à transformação do IOF em ferramenta de arrecadação, quando sua natureza deveria ser regulatória. 

A medida, se mantida na íntegra, poderia render até R$ 61 bilhões aos cofres públicos até o fim de 2026. Mas a resistência foi tão intensa que, desde a última quinta-feira (22), quase 20 projetos foram protocolados na Câmara para derrubar o decreto. A oposição também quer convocar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para dar explicações formais. 

O clima ficou ainda mais tenso depois de uma declaração de Haddad, que afirmou ao jornal “O Globo” que o Brasil vive um “quase parlamentarismo”. A fala caiu mal entre os deputados, especialmente aqueles que já enxergam o governo como centralizador nas decisões econômicas. 

Dentro do próprio governo, já há quem admita que, se o Congresso derrubar a alta do IOF, o Executivo terá de correr atrás de mais cortes. E o alerta vem carregado: programas sociais, saúde e educação estão no radar. A conta poderia bater na casa dos R$ 20 bilhões. 

O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), não escondeu a pressão: “Se querem mexer no IOF, precisam apresentar uma fonte alternativa de receita. A matemática é simples”. 

Apesar do recuo parcial, que retirou a taxação sobre investimentos de fundos nacionais no exterior, a equipe econômica ainda não sabe exatamente de onde tirar o dinheiro que deixará de entrar. Haddad foi claro: “Temos até o fim de semana para decidir. Ou contingenciamento, ou uma substituição.” 

Enquanto isso, a oposição articula. Motta deve discutir com os líderes partidários os próximos passos. Por ora, a avaliação dentro do Planalto é de que, apesar do barulho, a chance de o Congresso votar um texto derrubando o aumento do IOF ainda nesta semana é praticamente nula. Mas o desgaste; esse já está no orçamento político. 

Por: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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