Ministro rebate críticas após jantar com CEO do iFood, empresa que tem interesse direto em julgamento no STF.
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, ficou, visivelmente irritado. Tudo por causa das críticas que recebeu ao participar de um jantar na casa do CEO do iFood; a gigante dos aplicativos de entrega que, coincidentemente, tem um processo bilionário em análise no próprio STF.
O jantar, segundo o ministro, tinha um objetivo nobre: arrecadar fundos para um programa de ação afirmativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O problema foi o detalhe que não passou despercebido: na cena que viralizou, Barroso aparece cantando um sambinha, sorridente, ao lado do empresário anfitrião e de uma cantora contratada para animar a noite.
A questão não é o samba, nem o evento social. A questão é o conflito de interesses que salta aos olhos, já que o Supremo analisa justamente se há vínculo empregatício entre entregadores e empresas como… o próprio iFood.
“Quem faz” x “Quem tem razão”
Ao abrir uma sessão do CNJ, Barroso não disfarçou sua indignação. Com a serenidade que lhe é peculiar, misturada a um certo tom de desdém, disparou:
“No Brasil, existem duas grandes categorias de pessoas: as que fazem alguma coisa e as que têm razão. Portanto, a gente tem que continuar fazendo e deixar paradas as que têm razão e precisam vender jornal falando bobagem.”
E não parou por aí. Aumentou o tom:
“A incultura é um problema difícil de sanar no Brasil.”
A fala, evidentemente, não foi bem recebida fora das paredes de mármore do Judiciário. Especialmente por quem, como ele diz, “precisa vender jornal falando bobagem”.
Algumas perguntinhas incultas, ministro…
Se me permite, ministro, algumas dúvidas absolutamente desprovidas de razão, fruto da minha ignorância e dessa tarefa ingrata de ser jornalista:
• Desde quando é papel do Judiciário fazer vaquinha com empresas que têm processos em julgamento na própria Corte?
• Uma empresa que doa dinheiro a um programa do CNJ não espera, no mínimo, boa vontade futura de quem bateu palmas e cantou sambinha no seu sofá?
• Todos os juízes são, como o senhor se considera, imunes ao conflito de interesses?
• Fazer alguma coisa, ministro, não inclui às vezes fazer a coisa errada, mesmo com a melhor das intenções?
• Se até o papa já reconheceu não ser infalível, por que raios ministros do STF parecem se achar acima de qualquer suspeita?
Sim, talvez sejam perguntas bobas, simplórias, retóricas até. Afinal, segundo o senhor, faço parte daquele grupo que acha que tem razão, quando na verdade só tenta, muitas vezes em vão, entender esse Brasil onde até o samba carrega uma pauta jurídica embutida.
Mas, como não me resta muita escolha, sigo condenado a ser um ignorante profissional, vendendo jornal e falando bobagens, até que me dispensem dessa tarefa inglória.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação