Aliados veem articulação como tentativa de conter avanço da esquerda e reagir a investigações contra Eduardo Bolsonaro no STF.
A ofensiva do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, continua gerando reações em cadeia; e agora movimenta também o campo bolsonarista. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) avalia intervir pessoalmente no caso, com o objetivo de negociar diretamente com a Casa Branca uma possível reversão da medida.
Nos bastidores, aliados de Bolsonaro afirmam que a movimentação é estratégica e busca conter o desgaste político que tem recaído sobre o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado por setores da esquerda e até por integrantes do governo de ter influenciado Trump a retaliar o Brasil por questões internas, como as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e a atuação do ministro Alexandre de Moraes.
A ideia, que ainda está em avaliação, seria articular um contato direto com Trump; possivelmente por meio de um telefonema, para demonstrar capacidade de diálogo e contrapor a imagem de um governo Lula supostamente enfraquecido nas relações internacionais. Ao mesmo tempo, essa iniciativa tentaria diluir a percepção de que Eduardo Bolsonaro agiu isoladamente ou de forma prejudicial aos interesses nacionais.
A avaliação no entorno de Bolsonaro é de que o tarifaço acabou favorecendo a esquerda, ao alimentar uma narrativa de “nós contra eles” centrada na soberania nacional: bandeira que o PT tem sabido explorar com eficiência. O episódio também teria congelado o avanço de pautas caras ao bolsonarismo, como o projeto de anistia aos investigados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.
Para aliados próximos, o movimento de Bolsonaro seria uma forma de reafirmar sua liderança política, nacional e internacionalmente, e evitar que se cristalize a imagem de que seu filho teve papel determinante na adoção das tarifas. Eles apontam que o próprio Trump teria interpretado a realização da cúpula do Brics no Brasil como uma afronta aos EUA, especialmente por envolver países como China e Venezuela e que esse gesto diplomático, somado ao silêncio do Itamaraty, teria sido decisivo para o endurecimento norte-americano.
Investigação avança contra Eduardo no STF
Enquanto a articulação política toma corpo, o cenário jurídico também se agrava para Eduardo Bolsonaro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) estuda quais medidas seriam cabíveis contra o parlamentar licenciado, diante da suspeita de que ele tenha incitado autoridades americanas a agir contra o STF durante sua estadia nos Estados Unidos, iniciada em março.
Eduardo é investigado por determinação do ministro Alexandre de Moraes, sob as acusações de coação no curso do processo, obstrução de investigação e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Segundo a PGR, sua atuação tem o objetivo de livrar o pai de uma eventual condenação por tentativa de golpe de Estado.
A prorrogação do inquérito por mais 60 dias, concedida nesta semana pelo STF, permitirá o aprofundamento de diligências que podem embasar o julgamento do “núcleo 1” da ação penal, previsto para meados de setembro. Mesmo com a pressão internacional e os desdobramentos políticos, ministros da Corte têm dito, em conversas reservadas, que nada impedirá o andamento das investigações.
Risco político e jurídico
A possível entrada de Bolsonaro nesse xadrez delicado também carrega riscos. Se Trump mantiver a tarifa mesmo após a tentativa de intervenção, o gesto poderá ser visto como fracassado e reforçar a narrativa de que Eduardo agiu em prejuízo do país. Além disso, caso haja qualquer consequência administrativa contra autoridades brasileiras como resultado de pressões externas, Jair Bolsonaro também poderá ser arrastado para o centro das investigações, especialmente se houver suspeita de conluio ou interferência indevida.
Ainda assim, o ex-presidente parece disposto a arriscar. O tarifaço de Trump virou um novo campo de batalha e Bolsonaro, mesmo fora do poder, quer mostrar que ainda joga.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação