Com Selic a 15%, país fica atrás apenas da Turquia e vê ambiente para consumo e investimento ficar ainda mais restrito
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a Selic para 15% ao ano colocou o Brasil em uma posição desconfortável no cenário internacional: a de segunda maior taxa de juro real do mundo.
Segundo levantamento da MoneYou, que analisou dados de 40 países das Américas, África, Ásia, Europa e Oceania, o Brasil agora só fica atrás da Turquia, cuja taxa real atinge impressionantes 14,44%. O Brasil aparece com juros reais de 9,53%, superando países historicamente conhecidos por políticas monetárias restritivas.
Juros reais: o que isso significa na prática?
A chamada taxa de juros real é a diferença entre a taxa nominal (no caso, a Selic) e a inflação projetada para os próximos 12 meses. É esse número que realmente mede o custo do crédito, o incentivo ao consumo e o estímulo (ou desestímulo) ao investimento produtivo.
No cálculo usado para o ranking, foram considerados os juros futuros do Brasil (com base na taxa DI projetada até julho de 2026) e a inflação estimada em 4,72% para os próximos 12 meses, segundo dados do Boletim Focus do Banco Central.
Impactos diretos na economia
A nova posição do Brasil no ranking evidencia o quanto o ambiente interno está mais hostil ao crescimento econômico. Juros reais altos significam crédito mais caro, consumo retraído e investimentos privados em compasso de espera, afetando desde as pequenas empresas até os grandes projetos de infraestrutura.
Além disso, o país enfrenta agora uma combinação perigosa: inflação ainda resistente, crescimento abaixo do potencial e um governo sob forte pressão política para aumentar os gastos públicos, o que pode ampliar ainda mais o descompasso entre política fiscal e política monetária.
Cenário global
O levantamento global reforça uma tendência de endurecimento das políticas monetárias em países que buscam controlar a inflação. Ainda assim, o Brasil está no grupo de destaque pelos extremos, refletindo os desafios internos de equilibrar contas públicas, inflação e crescimento.
Com o novo patamar da Selic, o mercado agora volta suas atenções para os próximos movimentos do Banco Central e para a capacidade do governo Lula de administrar os impactos dessa política de juros nas expectativas econômicas e na popularidade do Planalto.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação