Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro refuta acusações em meio a investigação sobre suposta obstrução de justiça e favorecimento pessoal, que envolve o ex-ministro Gilson Machado.
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, prestou depoimento à Polícia Federal nesta sexta-feira (13) e negou as alegações de que teria solicitado ajuda para obter um passaporte português com o intuito de fugir do Brasil. O depoimento de Cid faz parte da investigação que mira o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, que é acusado de ter atuado para facilitar a expedição do passaporte para o militar.
Cid, que foi preso temporariamente pela PF na manhã desta sexta-feira, teve sua prisão revogada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas os motivos que levaram o ministro Alexandre de Moraes a tomar essa decisão não foram divulgados. Durante o depoimento, que durou cerca de duas horas, Cid afirmou que não houve qualquer tentativa de sua parte de deixar o país e que, portanto, não houve intenção de fraude ou obstrução de justiça.
Investigação e a suposta ação de Gilson Machado
A investigação conduzida pela PF revelou que, no dia 12 de maio, Gilson Machado teria tentado obter a expedição de um passaporte português para Mauro Cid junto ao consulado de Portugal em Recife. Segundo os investigadores, a solicitação teria como objetivo possibilitar a saída do ex-ajudante de ordens do Brasil, um movimento que levantou suspeitas de obstrução de justiça e favorecimento pessoal.
Ainda de acordo com a Polícia Federal, Machado teria utilizado sua posição para solicitar o passaporte e, por meio de sua conta no Instagram, promovido uma campanha de arrecadação de doações financeiras para Jair Bolsonaro, o que também está sendo investigado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitou ao STF a abertura de um inquérito para apurar os fatos, considerando que essas ações podem ter sido realizadas para obstruir investigações em andamento, especialmente em relação ao golpe de 8 de janeiro.
Gilson Machado nega envolvimento e pede esclarecimentos
Em sua defesa, Gilson Machado negou veementemente qualquer tentativa de obtenção do passaporte para Cid. Durante sua prisão, ele afirmou em entrevista à imprensa que a única solicitação que fez foi para conseguir a renovação do passaporte de seu próprio pai, e que tal pedido foi feito por telefone ao consulado de Portugal, sem qualquer envolvimento do tenente-coronel.
“Eu apenas pedi um passaporte para meu pai, por telefone, ao consulado português em Recife. No outro dia, meu pai e meu irmão foram ao consulado para tratar da renovação do passaporte. Isso é o que aconteceu”, declarou Machado ao ser questionado sobre as acusações. Ele também afirmou ter provas de suas alegações, como áudios de conversas com funcionários do consulado e registros de entradas no consulado, os quais, segundo ele, confirmam sua versão dos fatos.
Machado negou ainda ter estado pessoalmente em qualquer consulado ou embaixada para tratar de passaporte para terceiros, e frisou que a campanha de arrecadação de dinheiro via Instagram foi voltada para questões pessoais, não envolvendo interesses de terceiros ou ações ilícitas.
Cenário de obstrução de justiça e movimentações na investigação
Embora a PF tenha considerado o depoimento de Mauro Cid “esclarecedor”, o caso ainda segue em aberto. A Polícia Federal não descartou a possibilidade de realizar novos interrogatórios caso surjam mais informações relevantes ou inconsistências nas declarações dos envolvidos. A investigação continua a ser monitorada de perto pela PGR, que considera possível que novas tentativas de obtenção do passaporte possam ocorrer em outros consulados e embaixadas.
O ex-ministro Gilson Machado, por sua vez, continua negando as acusações de obstrução de justiça e favorecimento pessoal, mas segue sob investigação da PGR, que avalia a necessidade de novas medidas de busca e apreensão, bem como outras ações judiciais que possam esclarecer o envolvimento do ex-ministro no suposto esquema.
O futuro da investigação e implicações políticas
A investigação envolvendo o passaporte português de Mauro Cid e o papel de Gilson Machado no processo tem gerado repercussões políticas e jurídicas significativas. O envolvimento de figuras próximas ao ex-presidente Jair Bolsonaro na tentativa de facilitar a saída de um aliado do Brasil levanta questões sobre o alcance das ações de obstrução de justiça e a continuidade de investigações sensíveis sobre o governo anterior.
Enquanto o caso se desenrola, a pressão sobre as autoridades aumenta, e o futuro político de envolvidos como Gilson Machado e Mauro Cid continua a ser uma incógnita. O desfecho da investigação também poderá influenciar o andamento de outras apurações em relação aos eventos de 8 de janeiro e outras tentativas de desestabilizar o processo democrático no Brasil.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN