Setor produtivo quer crédito emergencial e flexibilização trabalhista; proposta encontra resistência no Planalto.
Às vésperas da entrada em vigor das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos, representantes do setor produtivo brasileiro pressionam o governo federal por medidas urgentes para mitigar os impactos da medida sobre as exportações nacionais. As propostas foram levadas ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, que lidera o comitê responsável por coordenar a resposta oficial ao tarifaço de Donald Trump.
Entre os pedidos está a criação de uma linha especial de crédito para que exportadores consigam honrar compromissos já assumidos junto aos bancos, especialmente os ACCs (adiantamentos de contrato de câmbio). Esses adiantamentos são uma prática comum entre médias e grandes empresas exportadoras, que usam o recurso para garantir capital de giro enquanto aguardam o recebimento em dólar pelas mercadorias vendidas ao exterior.
Com a mudança repentina nas condições de mercado e o aumento abrupto das tarifas americanas, muitas exportações foram suspensas ou canceladas, interrompendo o fluxo financeiro dessas empresas. O setor agora tenta negociar uma forma de refinanciar os valores já antecipados pelas instituições bancárias.
Outro ponto sensível apresentado ao governo envolve a flexibilização temporária da legislação trabalhista, em bases semelhantes às adotadas durante a pandemia de Covid-19. Na ocasião, o chamado BEm (Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda) permitia acordos de redução proporcional de jornada e salário, com compensação parcial do valor pago aos trabalhadores feita pela União.
A sugestão, no entanto, enfrenta forte resistência dentro do Palácio do Planalto. Segundo fontes ouvidas pela CNN, integrantes da ala política do governo avaliam que uma medida desse tipo não seria bem recebida pela sociedade e poderia gerar desgaste, especialmente entre as bases sindicais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Apesar das dificuldades, o governo admite que um plano de contingência está em estudo. “Estamos elaborando medidas para proteger o setor produtivo, mas nosso esforço principal neste momento é tentar reverter o tarifaço”, afirmou Alckmin nesta segunda-feira (28), após reunião com representantes da indústria e ministros da área econômica.
Lula também se reuniu com Fernando Haddad (Fazenda) e outros auxiliares para discutir alternativas. Até o momento, o governo segue tentando negociar diretamente com os EUA uma forma de contornar ou ao menos amenizar os efeitos da medida; que deve atingir em cheio empresas brasileiras com alto volume de exportação para o mercado americano.
Texto: Daniela Castelo Branco
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