Tempo de envio entre Brasil e EUA impede chegada de produtos antes de tarifa de 50% entrar em vigor em 1º de agosto.
A corrida das exportações brasileiras para os Estados Unidos se encerrou nesta terça-feira (22), sem chances de novas remessas escaparem do tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump. Com previsão de entrada em vigor em 1º de agosto, a sobretaxa de 50% sobre produtos do Brasil já atinge em cheio os embarques do agronegócio e de setores como celulose e carne.
Após o anúncio da Casa Branca em 9 de julho, empresas brasileiras anteciparam ao máximo o envio de cargas, com destaque para o aumento de 96% nas exportações de proteínas animais nas duas primeiras semanas do mês. A estratégia, porém, perdeu eficácia nos últimos dias.
O tempo médio de travessia entre o Porto de Santos e os principais portos americanos; como Nova Orleans e Nova York, varia entre 14 e 30 dias, dependendo da rota, escalas e condições climáticas. Segundo técnicos do porto, não há mais tempo hábil para que mercadorias cheguem aos EUA antes da cobrança da tarifa, mesmo que sejam embarcadas imediatamente.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as tarifas são aplicadas no momento da chegada ao país de destino, e não no momento do embarque. Isso significa que qualquer produto brasileiro que desembarcar nos EUA a partir de 1º de agosto será tributado.
Setores afetados buscam alternativas
Diante da impossibilidade de evitar a tarifa, empresas e entidades representativas passaram a adotar novas estratégias. Uma delas é o diálogo direto com companhias americanas, como a importadora de suco de laranja Johanna Foods, que já entrou com uma ação judicial nos EUA contestando a legalidade da medida.
Outra iniciativa em discussão é a criação de uma lista de exceções às tarifas, com foco em produtos que os EUA não produzem em escala suficiente, como café e frutas tropicais. A National Coffee Association, maior entidade do setor nos Estados Unidos, lidera as articulações e deve pedir isenção para o café brasileiro, que representa 35% das importações americanas do produto.
O setor de frutas também pode ser favorecido: o Brasil é o terceiro maior fornecedor de manga para os EUA, sendo responsável por cerca de 8% das importações, em um mercado que praticamente não produz o item localmente.
Enquanto isso, os prejuízos se avolumam. A estimativa é de que a tarifa comprometa bilhões de dólares em exportações brasileiras, com impacto direto em estados como São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, fortemente dependentes do mercado americano para itens como laranja, café, carne e papel.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN