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Democracia brasileira exige reformas urgentes, avalia cientista político da USP

José Álvaro Moisés aponta falhas do presidencialismo e defende mudanças estruturais para fortalecer o regime

A democracia brasileira não precisa de figuras heroicas, mas sim de uma profunda reforma para funcionar de forma mais eficaz, defendeu o cientista político José Álvaro Moisés, professor sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), durante o programa ‘WW Especial’, da CNN, que discutiu se a democracia nacional precisa de salvadores.

Falta de líderes e articulação política

O cientista político enfatizou que, embora as regras sejam cruciais para o funcionamento de um regime complexo como a democracia, o Brasil enfrenta a ausência de líderes capazes de realizar a articulação necessária, um vácuo deixado após a geração de estadistas que conduziram a redemocratização do país.

“Nós não precisamos de salvadores, nós precisamos reformar a democracia para fazê-la funcionar melhor. Reformar no sentido do que não está funcionando bem no Brasil”, afirmou.

Presidencialismo em crise

Coordenador do grupo de pesquisa Qualidade da Democracia, José Álvaro afirmou que o regime político brasileiro enfrenta desafios críticos que necessitam de reestruturação. Segundo ele, uma reforma se faz urgente diante do “colapso do presidencialismo de coalizão” e dos persistentes problemas de representação que “alienam a população”.

“O presidencialismo brasileiro vem de há muito tempo em crise. Um presidente se suicidou, outro renunciou, outro foi deposto. Agora, nesse período mais recente, em menos de 30 anos, nós tivemos dois impeachment, uma clara indicação de que não funciona bem”, observou.

Citando o cientista político espanhol Juan Linz (1926-2013), o professor da USP descreveu que “o presidencialismo do tipo brasileiro é de uma tal rigidez que não tem saída para as crises”.

Para ele, em momentos de crise envolvendo o presidente e seu apoio, as únicas saídas são “ou espera até o final do mandato, o que significa prolongar a crise por um período muito longo, ou então o impeachment que traumatiza a sociedade, divide e não resolve o problema”.

População sem representação

Outro ponto levantado é a percepção da população de que não se sente representada. “As pessoas não se sentem representadas. Os partidos políticos, com raras exceções, são muito esvaziados, se comportam mais como organizações que querem buscar benefícios do que propriamente com o chamado bem comum, quer dizer, responder à sociedade”, criticou.

Papel dos militares na democracia

O terceiro elemento, que o cientista político vê com sinais de resolução, refere-se à atuação dos militares na política. “Os militares, que durante muito tempo foram um problema, muita intervenção militar, em um certo sentido descaracterizou a República e a própria democracia”.

Contudo, ele conclui que há sinais de que “as próprias corporações estão se dando conta que não é esse o seu papel e de alguma maneira estão sintonizando com a necessidade de a democracia funcionar bem administrada pelos civis, independentes de intervenções”.

WW Especial
Apresentado por William Waack, programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

Reportagem: CNN Brasil

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