Análise mostra que maioria rejeita taxação em troca de anistia e vê Lula ganhar terreno político com crise comercial.
A crise provocada pelas tarifas impostas por Donald Trump aos produtos brasileiros tem se tornado um campo fértil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto a direita brasileira se mostra desarticulada e perde espaço no debate. É o que aponta o cientista de dados Sérgio Denicoli, CEO da AP Exata, em análise apresentada durante o programa WW.
Segundo Denicoli, a falta de coesão da oposição em torno do chamado “tarifaço” abriu espaço para que o governo Lula conseguisse surfar politicamente na crise, adotando uma postura de defesa dos interesses nacionais. “Lula está jogando politicamente, pensando nas eleições. A direita se dessincronizou e cometeu erros estratégicos”, avaliou.
Dados levantados pela AP Exata revelam que a maioria da população é contrária à taxação dos produtos brasileiros e, sobretudo, à tentativa de usá-la como moeda de troca para negociar anistia aos envolvidos no 8 de janeiro: proposta impulsionada por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. A atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nas tratativas com interlocutores de Trump é vista com bons olhos apenas dentro do núcleo bolsonarista, mas repercute mal entre os demais grupos sociais e políticos.
Ainda de acordo com a análise, o cenário atual revela uma diminuição na polarização política em comparação com 2018, com avanço expressivo dos eleitores moderados: segmento que tende a rejeitar radicalizações e manobras oportunistas.
Denicoli aponta ainda que o governo Lula pode estar de olho em ganhos econômicos internos. Um possível efeito colateral positivo do tarifaço seria o redirecionamento de produtos originalmente voltados à exportação para o mercado interno, o que poderia ajudar a reduzir os preços de alguns itens para o consumidor brasileiro.
Com as novas tarifas entrando em vigor em 1º de abril, o desdobramento do embate entre o Planalto, o Congresso e o bolsonarismo pode impactar diretamente a disputa eleitoral de 2026. Até aqui, Lula parece estar um passo à frente.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação
Reportagem: CNN/Brasil