Críticas foram feitas em sabatina durante a indicação do ministro ao STF.
O tempo e a política costumam mudar muitas narrativas, e um vídeo que voltou a circular nas redes sociais mostra bem esse contraste. Gleisi Hoffmann, atual ministra e uma das principais lideranças do PT, já foi uma das vozes mais críticas a Alexandre de Moraes; hoje seu aliado e alvo de defesa do partido em meio às sanções impostas pelo governo Donald Trump.
O registro é de 2017, durante a sabatina que avaliou a indicação de Moraes ao Supremo Tribunal Federal (STF), feita pelo então presidente Michel Temer. Na ocasião, Gleisi, então senadora, acusou o indicado de perseguir adversários políticos e de representar riscos à democracia brasileira.
“O indicado é um militante partidário convicto, aliás, com posicionamentos externados, e filiado ao PSDB. Nós temos posicionamentos até de perseguição política por parte do indicado em relação ao PT”, afirmou Gleisi na época. Ela reforçou o tom crítico ao questionar o comportamento de partidos rivais diante das conveniências políticas:
“Fico espantada como as pessoas se adequam rapidamente às conjunturas que lhes interessam”, disse, numa referência ao PSDB. E ironizou: “Será que, mais uma vez, teremos na República alguém pedindo para esquecermos o que escreveu?”
O contraste com os dias atuais chama atenção. O PT, que rejeitou a nomeação de Moraes e emitiu nota oficial contra sua indicação, hoje se tornou um dos maiores defensores do ministro, sobretudo após ele ser sancionado pelos Estados Unidos sob acusações de perseguir políticos de direita, em especial o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Leia o discurso da então senadora:
É extremamente preocupante. Não é possível que a gente tenha um ministro do Supremo com vinculação e compromissos partidários. Essa frase é do senador Aécio Neves em 2015, durante a sabatina de Fachin na CCJ.
Eu fico espantada com a forma como as pessoas se adequam rapidamente às conjunturas que lhes interessam. Acabou-se de discursar sobre a necessidade de respeitar os posicionamentos políticos dos indicados ao STF.
Os que foram leões contra Fachin hoje estão aqui, mansos, diante de uma sabatina em que o nosso indicado é um militante partidário convicto, aliás, com posicionamentos externados, além de filiado a partido político. Nós temos registros de perseguição política por parte do indicado em relação ao PT, bem como manifestações públicas de apoio ao impeachment da presidenta Dilma.
Vivemos tempos sombrios. É indiscutível que o país atravessa uma séria e profunda crise política e institucional, que impõe grandes desafios à nossa golpeada democracia. Por isso, o incômodo e o temor em relação à sua indicação.
O senhor disse que se considera imparcial e que irá se guiar pela Constituição. A que o senhor atribui manifestações tão contundentes contrárias à sua indicação, como as que estamos presenciando? Há muita indignação por parte da opinião pública. Não vimos isso em outras indicações para o Supremo.
O abaixo-assinado do 11 de Agosto, por exemplo, reuniu 278 assinaturas contrárias à sua indicação.
Reiteramos aqui a preocupação com seus posicionamentos no Supremo, especialmente em relação à democracia e ao respeito aos movimentos sociais.
O senador Requião , digno de ser ouvido, relatou que contratou um especialista jurídico para orientá-lo sobre apoiar ou não sua candidatura ao Supremo. Segundo ele, o especialista afirmou: se Alexandre de Moraes fosse senador, ele não votaria no indicado Alexandre de Moraes.
Será que, mais uma vez, teremos na República alguém pedindo para esquecermos o que escreveu?
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação
Reportagem: Portal Metrópoles