Setor de suco de laranja alerta para impacto bilionário; decisão é vista como retaliação política por apoio a Bolsonaro.
A crise comercial provocada pelo tarifaço de 50% imposto por Donald Trump aos produtos brasileiros ganhou novo capítulo com a entrada da empresa americana Johanna Foods na Justiça contra a medida, que pode entrar em vigor no dia 1º de agosto. Sediada em Nova Jersey, a distribuidora de suco de laranja afirma que a sobretaxa é inconstitucional e movida por motivação política, em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a ação protocolada na Corte de Comércio Internacional dos EUA, a empresa alerta que os custos de importação do suco de laranja brasileiro devem subir cerca de US$ 68 milhões em 12 meses, elevando em até 25% o preço final ao consumidor americano. A Johanna Foods, que atua também por meio da Johanna Beverage Co., é responsável por marcas populares como La Yogurt, Ssips e Tree Ripe.
Brasil é vital para o mercado americano
O Brasil responde por mais da metade do suco de laranja consumido nos Estados Unidos, sendo o maior fornecedor global do produto. A tarifa anunciada por Trump ameaça não só a estrutura de preços nos EUA, mas também a sobrevivência de um setor brasileiro que movimenta cerca de US$ 3 bilhões por ano e emprega mais de 200 mil pessoas, direta e indiretamente. O estado de São Paulo, que concentra 78% da produção nacional de laranja, é apontado como o mais afetado.
A CitrusBR, entidade que representa os exportadores brasileiros, alertou que a tarifa pode elevar a carga tributária total sobre o suco brasileiro nos EUA a até 70%, inviabilizando a competitividade no maior mercado consumidor.
Trump e o apoio a Bolsonaro
A ação da Johanna Foods reforça o argumento de que a tarifa anunciada por Trump não tem base econômica, mas sim motivação política; em especial como reação às decisões judiciais no Brasil contra Bolsonaro. O ex-presidente americano chegou a citar a “perseguição” ao aliado brasileiro como um dos motivos para aplicar a tarifa.
No processo, os advogados da empresa alegam que Trump não declarou formalmente emergência nacional, condição necessária para usar os poderes concedidos pela Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA). Sem essa declaração, afirmam, a tarifa é ilegal e fere a Constituição americana por não ter aprovação do Congresso.
Reação do Brasil e tentativa de negociação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil “não aceitará ingerência ou ameaças à sua soberania” e prometeu adotar medidas de reciprocidade econômica. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), mesmo com críticas ao governo federal, reconheceu a gravidade da crise e defendeu “união de esforços” entre Brasília e os estados produtores.
Nos bastidores, o setor privado brasileiro e americano articula pressões para reverter a medida. Uma comitiva de empresários e representantes do governo federal está sendo avaliada para negociar diretamente com autoridades e empresas nos EUA, em uma tentativa de evitar o aprofundamento de uma guerra comercial.
Pressão judicial e diplomática
A Casa Branca, por meio do porta-voz Kush Desai, defendeu a tarifa alegando que a medida visa proteger o mercado de trabalho americano e a segurança nacional. Mas especialistas como Benn Steil (Conselho de Relações Exteriores) e Reilly Stephens (Liberty Justice Center) consideram que a medida não se sustenta legalmente se baseada em argumentos políticos.
Se não for revertida, a tarifa pode comprometer a presença brasileira no mercado americano e transformar o suco de laranja em símbolo de uma crise diplomática e comercial entre os dois países. A pressão da Johanna Foods e de outras empresas americanas pode ser decisiva para o desfecho desse embate.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação