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Exército endurece regras e adota tolerância zero em quartéis durante julgamento de Bolsonaro

Forças Armadas reforçam segurança diante do processo no STF e da proximidade do 7 de setembro, em meio a temores de novos atos políticos.

Às vésperas do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de militares de alta patente acusados de articular uma tentativa de golpe de Estado, o Exército Brasileiro anunciou uma política de tolerância zero contra aglomerações e manifestações nas proximidades de unidades militares. A medida tem duplo objetivo: blindar as instituições durante a análise da Ação Penal 2668 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a partir desta terça-feira (2), e conter possíveis mobilizações no feriado de 7 de setembro, data historicamente marcada por atos políticos.

O Comando Militar do Planalto e a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal estão em coordenação permanente para reforçar o esquema de segurança. Em Brasília, as celebrações do Dia da Independência devem se concentrar na região da Torre de TV, longe de quartéis e da Praça dos Três Poderes: epicentro dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.

O julgamento mais delicado da história recente

A sessão da Primeira Turma do STF ocorre em um cenário de alta tensão, já que entre os réus estão Bolsonaro, o delator Mauro Cid e três generais de quatro estrelas: Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. Também figura na lista o almirante Almir Garnier, acusado de ter colocado a Marinha à disposição do plano golpista.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo formava o “núcleo crucial” da trama e teria elaborado o documento chamado Punhal Verde e Amarelo, que previa medidas extremas: da decretação de Estado de Sítio ao assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.

O trauma dos acampamentos e o reposicionamento do Exército

A reação firme das Forças Armadas busca evitar a repetição do cenário pós-eleições de 2022, quando apoiadores de Bolsonaro montaram acampamentos em frente a quartéis, culminando nos ataques de 8 de janeiro. Generais admitem, sob anonimato, que foi um “erro” não ter desmobilizado os grupos à época, quando Bolsonaro ainda estava no poder.

Desde então, o comando do Exército passou às mãos do general Tomás Paiva, conhecido por sua postura legalista e resistência às pressões golpistas. A atual cúpula militar tenta reforçar a separação entre atos individuais e a imagem institucional, alinhando-se ao discurso do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro: “É preciso separar o CPF do CNPJ”.

Blindagem da democracia

Com a mobilização de 501 jornalistas credenciados para cobrir o julgamento e uma série de medidas de segurança em vigor, o processo no STF se tornou um marco da democracia brasileira. Para especialistas, o esforço das Forças Armadas de se manterem afastadas de manifestações políticas é crucial para preservar sua legitimidade e evitar fissuras internas.

“O governo buscará blindar a instituição militar e atrelar responsabilidades a indivíduos específicos ligados a Bolsonaro, não às Forças Armadas como um todo”, avalia o professor Augusto Teixeira, ouvido pela BBC News Brasil.

O julgamento, que vai de 2 a 13 de setembro, ocorre sob forte vigilância e promete reverberar muito além do Supremo: será um teste da solidez institucional do país e um divisor de águas para a relação entre política e Forças Armadas no Brasil.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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