Setores de carne bovina, sucos e café já acumulam queda expressiva nas vendas; governo corre para mitigar perdas.
Mesmo antes da entrada em vigor das tarifas de 50% anunciadas por Donald Trump, prevista para 1º de agosto, setores estratégicos do agronegócio brasileiro já sofrem os efeitos das barreiras comerciais. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostram que as exportações de carne bovina, sucos de frutas e café para os Estados Unidos despencaram nos últimos meses.
A maior retração ocorreu nas vendas de carne bovina, que caíram 67% entre abril e junho. O volume exportado passou de US$ 229,4 milhões para US$ 75,3 milhões no período: uma perda de dois terços do mercado norte-americano. As vendas de sucos de frutas, com destaque para o suco de laranja, recuaram 54%, enquanto o café registrou queda de 41%.
Esses três produtos encabeçam a lista do agro nacional mais exportado aos EUA e agora estão no centro das preocupações do Ministério da Agricultura, que tenta articular soluções para evitar um colapso nas exportações brasileiras.
Dificuldade de diálogo com a Casa Branca
Apesar dos apelos do setor produtivo por uma negociação direta com a Casa Branca, o governo brasileiro ainda enfrenta obstáculos para estabelecer um canal efetivo com o governo Trump. O cenário político tenso entre os dois países tem travado qualquer possibilidade de reversão imediata das tarifas.
Diante disso, o Palácio do Planalto tem apostado em medidas alternativas, como o redirecionamento das exportações para outros mercados. No radar do governo, a China e a Austrália surgem como potenciais compradoras do café brasileiro; a Arábia Saudita é uma alternativa para os sucos de frutas; e México, Chile e Vietnã são considerados destinos viáveis para a carne bovina.
Ainda assim, produtores temem que a perda de mercado nos Estados Unidos, mesmo que parcialmente compensada por novos destinos, represente prejuízos significativos para a balança comercial do setor, sobretudo em um ano de alta sensibilidade econômica e política.
Texto: Daniela Castelo Branco
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