Esquema de descontos indevidos atinge milhões de aposentados e mostram a fragilidade do sistema
A investigação sobre um dos maiores escândalos da história recente da Previdência Social acaba de entrar em uma nova fase. A Polícia Federal agora foca em irregularidades na concessão de empréstimos consignados, que podem somar quase R$ 90 bilhões.
Valor esse que revela não apenas a dimensão da fraude, mas também a fragilidade do sistema. O alvo das apurações são operações de crédito liberadas indevidamente a aposentados e pensionistas, com indícios de envolvimento de órgãos públicos, como a DataPrev, responsável pelo processamento de dados da Previdência.
Somente em 2023, os empréstimos consignados liberados pelo INSS alcançaram a impressionante marca de R$ 89,5 bilhões. No entanto, uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) acendeu o alerta: naquele mesmo ano, mais de 35 mil beneficiários denunciaram ter recebido empréstimos sem nunca terem feito qualquer solicitação.
A gravidade dos números aponta para um esquema com ramificações profundas e que pode ter violado os direitos de milhões de brasileiros que dependem da aposentadoria como única fonte de renda.
O escândalo, revelado por uma força-tarefa da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), é mais do que um caso de corrupção; é um retrato doloroso da vulnerabilidade daqueles que construíram este país com o próprio suor.
As investigações apontam que, entre 2019 e 2024, mais de 6 milhões de beneficiários foram vítimas de descontos indevidos em seus contracheques. O golpe era sofisticado: entidades de classe, como associações e sindicatos, registravam, sem autorização, a adesão de aposentados a supostos serviços e convênios. A partir daí, os valores começavam a ser debitados diretamente da folha de pagamento do INSS, sem que as vítimas sequer tivessem conhecimento.
Ponto Alto
Em abril de 2025, o escândalo atingiu seu ápice com o afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, após a deflagração da operação da PF em diversos estados. Mandados de prisão e de busca e apreensão foram cumpridos, revelando a extensão da fraude e os nomes por trás dela. Empresas de crédito consignado também estão na mira, especialmente por suspeitas de envolvimento em pagamentos milionários a essas entidades-fantasma.
Fragilidade do Sistema
O mais grave é que a CGU já havia alertado sobre as irregularidades em 2024, recomendando mudanças na regulamentação e monitoramento do crédito consignado. Mesmo assim, o sistema permaneceu vulnerável, escancarando as portas para o desvio bilionário que agora se revela.
Conversas com vítimas e suas famílias revelam mais do que indignação; mostram um sentimento profundo de traição. Aposentados que recebem pouco mais de um salário mínimo descobriram que vinham sendo lesados havia anos. Muitos, analfabetos ou com dificuldades de acesso digital, sequer entendiam a origem dos descontos. Outros, adoentados ou dependentes de familiares, só perceberam quando o prejuízo já havia comprometido sua subsistência.
O escândalo expõe, com clareza, a necessidade urgente de revisão nas políticas públicas voltadas à proteção dos idosos e exige que os responsáveis sejam punidos com o máximo rigor da lei.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação