Pressão no Congresso cresce, e base do governo já admite instalação da comissão para investigar fraudes na Previdência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião com ministros e líderes da base aliada, nesta sexta-feira (16), no Palácio da Alvorada, para discutir o apoio do governo à criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) destinada a investigar fraudes no INSS.
O encontro acontece em meio à crescente pressão de parlamentares, inclusive da base governista, que já admitem que a instalação da comissão pode ser inevitável. No Palácio do Planalto, no entanto, ainda há resistência;o receio é de que a CPMI se transforme em palco político e desgaste a imagem do governo.
Participam da reunião nomes estratégicos do núcleo político do Planalto: o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT-BA); a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT-PR); o ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT); além do secretário de Comunicação, Sidônio Palmeira, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
Foco nas fraudes, mas com olhar no passado
Parte dos governistas já trabalha com o cenário de que não há como barrar a CPMI. A estratégia, agora, seria assumir o protagonismo no processo e conduzir os trabalhos para revisitar a origem das fraudes, especialmente durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), quando o volume de descontos e associações previdenciárias disparou.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE), líder do partido no Senado, foi direto:
“O PT vai assinar, sim, essa CPI. Vamos investigar todos os fatos e todas as pessoas, como fizemos na CPI da Covid e na do 8 de Janeiro. Sem medo de apuração”, afirmou durante a Comissão de Transparência do Senado, que ouviu o ministro da Previdência nessa quinta-feira (15).
A declaração causou desconforto entre alguns aliados do governo, que ainda preferem uma abordagem mais cautelosa. O próprio senador Jaques Wagner chegou a considerar a assinatura do requerimento, mas ponderou que o Senado deveria focar em “projetos mais importantes” e que órgãos como a Polícia Federal têm mais estrutura para investigar fraudes complexas como as do INSS.
Nos bastidores, disputa de narrativa
A possível instalação da CPMI ocorre em um momento de desgaste para a gestão previdenciária. As denúncias de descontos indevidos, sobretudo em benefícios de aposentados e pensionistas rurais, mobilizaram o Congresso e reacenderam o debate sobre os acordos de cooperação firmados entre o INSS e entidades privadas nos últimos anos.
Líderes do governo trabalham agora para tentar minimizar danos e transformar a CPMI em oportunidade de exposição de irregularidades herdadas, em vez de um foco de críticas à atual administração.
A expectativa é de que o Planalto defina, nos próximos dias, se vai apoiar formalmente a comissão ou se continuará tentando dissuadir aliados da sua instalação.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN