Investigado por suspeita de descontos indevidos em aposentadorias, Sindnapi diz que ataques têm viés político e nega irregularidades.
Em meio às investigações sobre o esquema bilionário de descontos irregulares em aposentadorias e pensões pagas pelo INSS, o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi) decidiu quebrar o silêncio. A entidade, que tem como vice-presidente Frei Chico, irmão do presidente Lula, distribuiu uma carta a deputados e senadores, defendendo-se das acusações e alegando que está sendo alvo de um ataque político.
A operação, conduzida pela Polícia Federal e acompanhada pela Controladoria-Geral da União (CGU), aponta que o Sindnapi está entre os envolvidos no suposto esquema que pode ter causado prejuízos de até R$ 6 bilhões aos cofres públicos. Só em 2023, a arrecadação da entidade somou R$ 90 milhões.
Apesar da gravidade das denúncias, o sindicato não foi incluído na ação da Advocacia-Geral da União (AGU) que pede o bloqueio de bens de associações suspeitas e o ressarcimento dos valores cobrados indevidamente dos beneficiários.
No documento encaminhado ao Congresso, o sindicato afirma que a exposição tem como pano de fundo interesses políticos. “A única explicação seria o fato de o vice-presidente da entidade ser Frei Chico, irmão do presidente Lula, revelando um uso político da operação para atacar o governo e enfraquecer uma entidade combativa e respeitada”, diz a carta.
Crescimento de associados e defesa dos serviços
O Sindnapi também se defende das críticas sobre o crescimento no número de associados. Segundo a carta, esse aumento foi gradual e relacionado à ampliação de benefícios oferecidos desde 2019 como seguro de vida, auxílio funeral e atendimentos voltados à saúde preventiva.
A entidade cita ainda que, durante a pandemia, muitos idosos buscaram proteção para suas famílias, o que teria impulsionado novas adesões. “Ainda assim, o crescimento mensal nunca ultrapassou 3%”, afirma o sindicato.
Histórico de denúncias
Na tentativa de mostrar que o problema não é recente, o sindicato afirma ter denunciado irregularidades no setor já em 2017, ainda no governo Michel Temer, e novamente em 2021, durante a gestão de Jair Bolsonaro. Em 2023, com Lula de volta ao poder, a entidade teria levado o assunto ao Conselho Nacional da Previdência Social (CNPS), alertando para o avanço de práticas fraudulentas por parte de associações.
“O problema foi ignorado por anos, até que medidas começaram a ser tomadas recentemente”, destaca o texto.
Biometria e validade dos cadastros
Um dos pontos levantados pela Polícia Federal no relatório da operação é a ausência de validação biométrica por parte do Sindnapi, o que seria um requisito essencial para autorizar descontos nos benefícios. A informação consta em ofício da Dataprev, estatal responsável pelos sistemas de dados da Previdência.
O sindicato, por sua vez, rebate a acusação. Afirma utilizar um “sistema moderno de filiação”, com biometria facial, assinatura digital e reconhecimento de firma. Segundo o documento, uma auditoria independente teria validado 97,14% dos cadastros analisados. Os demais, segundo a entidade, “foram corrigidos”.
Em meio à crise, o recado é claro
O envio da carta ao Congresso sinaliza a tentativa do sindicato de se antecipar ao desgaste e evitar que a crise respingue diretamente no governo. Ainda assim, o caso continua em apuração, com todos os olhos voltados não apenas para os envolvidos, mas também para o impacto institucional que a investigação pode causar.
Enquanto isso, do lado de quem recebe o benefício, o sentimento é de desconfiança e indignação. Afinal, são milhares de aposentados e pensionistas que, mês após mês, veem valores serem descontados sem saber exatamente por quê ou para quem.
E quando o nome da Previdência, que deveria proteger, aparece associado a desvios e abusos, é a confiança em todo o sistema que entra em xeque.
Por: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/CNN