Movimento já dura mais de 160 dias e mobiliza delegados e auditores em todo o país contra congelamento salarial e mudanças no bônus de eficiência.
A greve dos auditores da Receita Federal, iniciada em 26 de novembro de 2024, entrou em uma fase inédita de intensidade: pela segunda vez na história do órgão. Delegados e chefias regionais aderiram oficialmente ao movimento. Com mais de 160 dias de duração, a paralisação já é uma das mais longas e emblemáticas do fisco brasileiro.
A insatisfação da categoria se agravou após a publicação das Resoluções 7 e 8 do Comitê Gestor do Bônus de Eficiência, vistas como uma ruptura do acordo firmado em fevereiro deste ano com o Ministério da Gestão. As medidas, classificadas pelo Sindifisco Nacional como “ilegais e arbitrárias”, revogam parte das garantias conquistadas no encerramento da greve anterior.
O impasse gira em torno do congelamento dos salários, sem reajuste real desde 2016 e das mudanças unilaterais no bônus de eficiência, implantadas sem diálogo com a classe. Segundo o sindicato, a defasagem acumulada já chega a 28%, mesmo após o reajuste de 9% concedido em 2023 a todo o funcionalismo.
Adesão das chefias amplia a pressão
Em assembleia nacional realizada nesta quarta-feira (7), 99,4% dos auditores votaram pela revogação imediata das novas resoluções. Delegados e adjuntos de diversas regiões fiscais, de Norte a Sul do país, formalizaram adesão ao movimento, considerado um gesto raro e de alto impacto institucional.
Na 1ª Região Fiscal, cinco chefias iniciaram a greve nesta semana. Na 6ª Região, 23 auditores em cargos de gestão anunciaram paralisação às terças, quartas e quintas-feiras a partir de 13 de maio. Na 7ª e 8ª Regiões, novas adesões estão previstas entre os dias 12 e 15 de maio.
Operação-padrão nos aeroportos causa atrasos
Nos principais aeroportos do país, a greve tem se refletido em operações-padrão reforçadas, com fiscalização minuciosa de bagagens e passageiros. Galeão (RJ), Guarulhos (SP), Brasília (DF), Salvador (BA), Confins (MG), Porto Alegre (RS) e Viracopos (SP) já operam sob o novo regime, que inclui o uso de cães farejadores e inspeções rigorosas. A medida tem provocado atrasos e filas; uma tática para aumentar a visibilidade do protesto.
Caminho incerto
Com forte adesão da base e das chefias, a greve desafia o governo federal a retomar o diálogo. A categoria reivindica a recomposição salarial, o respeito ao acordo de 2024 e a valorização de uma carreira estratégica para a arrecadação e controle aduaneiro do país.
A mobilização escancara não apenas o desgaste nas negociações, mas também um sentimento mais amplo de desvalorização do serviço público. O próximo passo depende da disposição do governo em abrir uma mesa de negociação efetiva antes que os impactos administrativos e econômicos se aprofundem.
Por: Daniela Castelo Branco
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