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Indicação de vices aos Tribunais de Contas redefine cenários políticos em Rondônia e no Rio de Janeiro

Governadores articulam manobra para abrir caminho a aliados e reorganizar o xadrez da sucessão estadual em 2026.

Em duas pontas opostas do país, Rio de Janeiro e Rondônia protagonizam movimentos políticos quase espelhados. Os governadores Cláudio Castro (PL) e Marcos Rocha (União Brasil) têm planos similares: indicar seus vice-governadores aos Tribunais de Contas estaduais e, com isso, abrir espaço para aliados de confiança assumirem o comando dos respectivos executivos estaduais.

A estratégia não é nova na política brasileira, mas chama atenção pela sincronia entre os dois estados, que reposicionam peças no tabuleiro mirando as eleições de 2026  e revelam, mais uma vez, o papel central que os Tribunais de Contas podem ocupar em manobras de sucessão.

No Rio, foco é 2026 e o nome é Rodrigo Bacellar

Com a impossibilidade de disputar nova reeleição, Cláudio Castro move suas peças de olho na continuidade de seu grupo no poder. A principal delas é a indicação do vice-governador Thiago Pampolha para o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), que deve ser votada nos próximos dias pela Assembleia Legislativa do Estado (Alerj).

A tentativa de barrar essa nomeação veio do advogado Victor Travancas, ex-subsecretário da gestão Castro e hoje adversário político. Ele alegou que Pampolha não possui diploma de curso superior, um dos requisitos formais para o cargo. Mas a juíza Roseli Nalin, da 4ª Vara de Fazenda Pública, negou a liminar e considerou que não havia prova incontestável da suposta irregularidade.

Com a vaga prestes a ser confirmada, a ida de Pampolha ao TCE abre caminho para que o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, assuma o governo fluminense ainda antes das eleições. É uma movimentação estratégica: Bacellar desponta como possível candidato ao Palácio Guanabara em 2026, com a vantagem de chegar ao pleito ocupando a cadeira de governador.

Em Rondônia, cenário se repete com Marcos Rocha e Alex Redano

A mesma lógica se desenha em Rondônia. Reeleito em 2022, o governador Marcos Rocha também trabalha para indicar seu vice, Sérgio Gonçalves, ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-RO). Com isso, Rocha pretende preparar o terreno para uma candidatura ao Senado, enquanto o comando do governo seria assumido, ainda que de forma temporária, pelo presidente da Assembleia Legislativa, Alex Redano (Republicanos).

Redano, que tem uma trajetória política sólida de vereador em Ariquemes a líder do Legislativo estadual , é hoje um dos nomes fortes do campo bolsonarista em Rondônia. A manobra permitiria consolidar sua presença no Executivo, ampliando as chances de continuidade do grupo político no poder estadual.

Tribunais de Contas como peça-chave na engrenagem política

As articulações reforçam o quanto os Tribunais de Contas, muito além de seu papel técnico e constitucional de fiscalizar os gastos públicos, se tornaram espaços de influência política. Com sete conselheiros cada, tanto o TCE-RJ quanto o TCE-RO acumulam prestígio, estabilidade e salários elevados, além, claro, de funcionarem como ponto de destino para lideranças políticas em fim de mandato ou com planos de reconfiguração de poder.

Nos bastidores, a ida de vices a cargos de conselheiro cumpre dupla função: recompensa aliados e desobstrui o caminho para novas alianças e candidaturas majoritárias.

O jogo que se repete  com sotaques diferentes

Embora estejam separados por mais de 3 mil quilômetros, Rio de Janeiro e Rondônia mostram que certas estratégias políticas falam a mesma língua. Ambas envolvem a rearrumação interna de forças, o uso de instituições como trampolim e o fortalecimento de nomes que poderão disputar o poder estadual nas próximas eleições.

A diferença está apenas no ritmo: enquanto no Rio os movimentos estão mais avançados e com datas definidas, em Rondônia a costura política ainda segue em construção.

O roteiro, no entanto, é o mesmo  e revela uma prática que, embora silenciosa para boa parte do eleitorado, continua a moldar quem decide, quem governa e quem fiscaliza no Brasil.

Por: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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