Especialistas avaliam que condenação no STF tende a isolar ex-presidente e abrir espaço para novos nomes na direita.
O julgamento da Ação Penal 2668, que começa nesta terça-feira (2) na Primeira Turma do STF, não é apenas um marco jurídico: carrega também um peso político capaz de influenciar diretamente o rumo das eleições de 2026. No banco dos réus está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de cinco crimes: entre eles, golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
Com risco de pegar mais de 40 anos de prisão, Bolsonaro já cumpre prisão domiciliar e está inelegível até 2030 por decisões do TSE. Mesmo assim, insiste em se apresentar como pré-candidato e conta com o apoio do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Mas a realidade, segundo especialistas ouvidos, é que a chance de reverter a inelegibilidade é mínima e uma condenação pode estender ainda mais o prazo.
Inelegibilidade em xeque
Para o constitucionalista Antonio Carlos de Freitas Júnior (USP), uma eventual condenação criminal transitada em julgado levaria à perda dos direitos políticos do ex-presidente. “Enquanto durarem os efeitos da condenação, ele não pode votar nem ser votado. Estaria inelegível até o final da pena”, explica.
O dilema do Centrão
Mesmo fora do jogo formal, Bolsonaro tenta preservar sua relevância política. O cientista político Eduardo Grin (FGV) aponta que o discurso de pré-candidatura funciona como estratégia para manter viva sua liderança na direita e seu peso eleitoral.
“Bolsonaro sabe que seu percentual de apoiadores pode ser decisivo em 2026. O Centrão vive um dilema: não pode se comprometer demais com ele, mas depende desses votos. Se a economia for mal, pode ser que avaliem que vale a pena se reaproximar. Se for bem, o preço de estar ao lado dele se torna alto”, avalia Grin.
Ainda assim, o especialista acredita que o bolsonarismo chegará às eleições mais enfraquecido e isolado que em 2022, com partidos de centro e até a própria família Bolsonaro cogitando candidaturas alternativas.
Quem herda o capital político?
O pesquisador Leonardo Paz Neves (FGV) vê no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o herdeiro natural do capital político bolsonarista. Para ele, a estratégia mais racional de Bolsonaro seria começar já a preparar seu sucessor: algo que Lula também hesitou em fazer em 2018, ao insistir na candidatura mesmo preso.
“Líderes carismáticos costumam ter dificuldade de passar o bastão. No caso de Bolsonaro, essa probabilidade é ainda menor, por seu perfil. Mas, se fosse pragmático, deveria investir desde já em um nome, dando tempo para consolidar alianças e estratégias”, analisa Paz Neves.
No fim, o julgamento que se inicia não decidirá apenas o destino jurídico de Jair Bolsonaro, mas também seu futuro político e, por tabela, o da direita brasileira. A resposta do Supremo pode acelerar o isolamento do ex-presidente ou redefinir a correlação de forças para 2026. Resta saber se Bolsonaro conseguirá se reinventar no tabuleiro político ou se terá que aceitar, pela primeira vez, o papel de coadjuvante na cena que sempre tentou protagonizar.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação