Presidente quer negociação técnica com os EUA e descarta interferência política; governo trabalha com hipótese de tarifa reduzida para 30%.
Em reunião com ministros na noite de domingo (13), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu os próximos passos da estratégia brasileira para tentar evitar a tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos de exportação. O petista defendeu um esforço conjunto entre governo e setor produtivo para intensificar o diálogo com as autoridades norte-americanas; em um nível técnico e sem interferência política.
Lula demonstrou disposição para aprofundar as conversas com Washington, mas deixou claro que questões políticas, como anistia a Jair Bolsonaro, não estarão em pauta. A prioridade, segundo ele, é proteger os interesses econômicos do país com responsabilidade e sobriedade.
A estratégia será liderada pelo vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), que coordenará um grupo temático de discussão com representantes dos setores mais afetados pela medida tarifária. Entre os segmentos convocados estão café, suco de laranja, celulose e petróleo: todos com forte presença nas exportações para os EUA.
Medidas de reciprocidade e aposta na redução
Lula reforçou na reunião que, caso não haja avanço nas negociações, o Brasil tomará medidas de reciprocidade para reagir à tarifa imposta por Trump. Ainda assim, o governo brasileiro acredita que há margem para flexibilização, especialmente com a intermediação de setores empresariais norte-americanos também impactados.
Nos bastidores, ministros apontam que uma tarifa de 30%, como foi aplicada à União Europeia e ao México, pode se tornar uma alternativa viável para o Brasil. A diferença, segundo fontes do Planalto, é que Brasil tem superávit na balança comercial com os EUA, o que eleva a pressão política interna sobre Trump.
A avaliação do governo é que o envolvimento direto do setor produtivo nas tratativas reforça a credibilidade da posição brasileira e amplia a chance de diálogo efetivo com interlocutores norte-americanos; especialmente com o empresariado dos EUA, que também teme os efeitos do tarifaço sobre cadeias produtivas compartilhadas.
A expectativa é que as primeiras reuniões entre ministros e empresários ocorram ainda nesta semana, como parte de uma ofensiva diplomática e comercial para tentar evitar que a medida entre em vigor a partir de 1º de agosto.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação/Agência Brasil