Governo federal descarta negociação direta com mineradoras e quer contrapartidas para eventual parceria com os norte-americanos.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem resistido às tentativas dos Estados Unidos de avançar em um acordo sobre minerais críticos, como lítio e nióbio, em meio ao embate comercial causado pelo tarifaço de 50% imposto por Donald Trump a produtos brasileiros.
Embora diplomatas norte-americanos estejam mantendo conversas informais com o setor privado brasileiro, o governo Lula deixou claro que a negociação é tema sensível e só pode ser conduzida oficialmente pelo Palácio do Planalto. Para o Planalto, as mineradoras não têm autorização para representar os interesses do país em um tema considerado estratégico para o desenvolvimento tecnológico nacional.
A tensão ocorre em meio à pressão americana para garantir acesso a minerais essenciais à produção de baterias, semicondutores, carros elétricos e turbinas eólicas; setor hoje dominado pela China. Autoridades brasileiras reforçaram que só consideram negociar caso haja contrapartidas em investimentos industriais no país, algo que os EUA ainda não formalizaram.
“Temos todo o nosso ouro para proteger. Temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger. E aqui ninguém põe a mão”, afirmou Lula em discurso nesta quinta-feira (24), em Minas Gerais. Ele reforçou que o Brasil não permitirá ingerência estrangeira sobre suas riquezas naturais e disse estar disposto a conversar com os americanos, desde que o diálogo seja direto e respeitoso.
A declaração de Lula surge enquanto cresce a movimentação diplomática entre os dois países. Apenas em 2025, já ocorreram três encontros entre representantes do setor mineral brasileiro e o encarregado de Negócios da embaixada americana, Gabriel Escobar. Em uma das reuniões, houve até a proposta de envio de uma comitiva brasileira a Washington para tratar do tema; algo que deve ocorrer apenas a partir de setembro.
Alckmin não descarta acordo com EUA
Apesar da resistência, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, adotou um tom mais conciliador e não descartou totalmente um eventual acordo com os EUA. “Existe uma pauta muito longa que pode ser explorada e avançada”, disse ele após encontro com representantes da indústria.
Atualmente, cerca de 70% das exportações minerais brasileiras têm como destino a China, país que domina mais de 80% da capacidade global de produção de células de bateria e mais da metade do processamento de lítio e cobalto, segundo a Agência Internacional de Energia. Reduzir essa dependência é um dos principais objetivos do governo Trump, que vê o Brasil como alternativa estratégica.
Plano estratégico
Enquanto isso, o governo brasileiro trabalha em um plano de contingência para conter os impactos econômicos do tarifaço. A previsão da indústria é de que até 110 mil empregos estejam ameaçados caso as novas tarifas entrem em vigor em 1º de abril. O temor do Planalto é que a medida afete diretamente o crescimento econômico, o controle da inflação e o índice de desemprego, que no primeiro trimestre caiu para 6,6%: o menor nível desde 2012.
A crise comercial e a disputa por minerais estratégicos, portanto, se entrelaçam num jogo de forças geopolíticas, em que Lula tenta preservar a soberania nacional e evitar que a pressão americana fragilize a economia brasileira em um ano decisivo para seu governo.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação
Reportagem: CNN/Brasil