Sucesso do sistema no Brasil expõe barreiras estruturais e ideológicas que impedem modelo semelhante nos Estados Unidos.
O Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil, tem chamado a atenção do mundo; especialmente dos Estados Unidos, onde uma iniciativa parecida ainda não saiu do papel. Embora os americanos sejam referência em inovação tecnológica, quando o assunto é pagamento digital público e universal, o Brasil largou na frente.
O segredo desse sucesso não está apenas na tecnologia, mas em uma combinação de fatores muito específicos. Um dos principais é a estrutura concentrada do sistema bancário brasileiro. Com cinco grandes bancos dominando o mercado: dois públicos e três privados, o país conseguiu alinhar os principais atores do setor financeiro em torno de uma política pública inovadora.
Já nos Estados Unidos, o cenário é completamente diferente. O país possui milhares de bancos de diferentes tamanhos, o que torna o sistema altamente pulverizado e difícil de coordenar. Além disso, há uma forte pressão do setor privado, especialmente das operadoras de cartões de crédito, que resistem à ideia de um sistema de pagamentos gratuito e acessível, criado pelo governo.
Outro obstáculo é de natureza ideológica. A cultura econômica americana é mais liberal, com forte desconfiança em relação à intervenção estatal em setores considerados estratégicos. Por isso, iniciativas públicas como o Pix encontram resistência, mesmo que possam oferecer benefícios diretos ao consumidor.
Enquanto isso, o Brasil colhe os frutos da ousadia. O Pix já substitui grande parte das transações feitas em dinheiro e tem, aos poucos, desbancado os cartões em operações do dia a dia. O modelo se tornou objeto de estudo e inspiração em diversos países, que veem na experiência brasileira, uma possibilidade de transformação digital com inclusão financeira.
Nos Estados Unidos, no entanto, a ideia de um “Pix americano” ainda parece distante. Por lá, a combinação entre fragmentação bancária, lobby corporativo e resistência ideológica ao protagonismo do Estado faz com que o sonho de um sistema gratuito, rápido e universal permaneça, por enquanto, fora de alcance.
Texto: Daniela Castelo Branco
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