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Por que o Pix preocupa os Estados Unidos?

Sistema de pagamentos brasileiro desafia o domínio de gigantes americanas ao oferecer tecnologia gratuita, pública e eficiente em países emergentes.

O sucesso estrondoso do Pix no Brasil e de sistemas semelhantes em outros países emergentes vem chamando atenção e causando preocupação de gigantes norte-americanas dos setores financeiro e tecnológico. A recente investigação comercial aberta pelos Estados Unidos contra o Brasil acendeu um alerta: por que a maior potência econômica do mundo estaria de olho em um sistema de pagamentos criado por um banco central?

A resposta passa por algo que os EUA dominam há décadas: o mercado global de transações financeiras. Empresas como Visa, Mastercard, Apple, Google e Meta (dona do WhatsApp) controlam bilhões de pagamentos no mundo todo por meio de cartões, carteiras digitais e aplicativos. Com isso, movimentam não só capital, mas também dados de consumo: ativos valiosíssimos na era digital.

O Pix, no entanto, muda o jogo. Gratuito, instantâneo, acessível e público, ele reduz ou até elimina a intermediação dessas grandes empresas, principalmente em pagamentos entre pessoas e pequenos negócios. Em vez de passar por uma cadeia que inclui bandeiras de cartão, bancos e operadoras, o dinheiro vai direto de uma conta para outra, em segundos.

Esse modelo não surgiu do nada. Nos anos 2000, países africanos começaram a experimentar soluções locais com base em SMS. O M-Pesa, lançado no Quênia, se tornou referência por permitir transferências sem banco ou cartão ; bastava um celular básico e uma rede de varejistas. A lógica era simples: autonomia e inclusão sem os custos tradicionais do sistema financeiro.

Mais recentemente, países como Indonésia e Brasil levaram o conceito a outro patamar, com tecnologia moderna e apoio institucional. O QRIS, da Indonésia, e o Pix, no Brasil, foram criados pelos próprios bancos centrais, o que garante segurança e confiança à população. E mais: são gratuitos para os usuários finais, algo que abala diretamente o modelo de negócios de empresas que cobram taxas sobre cada transação.

Hoje, mais de 160 milhões de brasileiros usam o Pix, em um volume que já ultrapassa o de transações feitas com cartões de crédito e débito somados. Essa mudança impacta diretamente o faturamento de operadoras de cartão e limita a expansão de serviços como Apple Pay, Google Pay e WhatsApp Pay, que precisam se adaptar a um cenário onde o protagonismo não está mais nas mãos de empresas privadas, mas de uma solução pública e eficiente.

O que está em jogo, portanto, não é só tecnologia, mas hegemonia. E a investigação dos EUA contra o Brasil, sob o argumento de práticas comerciais desleais, acende o alerta de que o Pix, símbolo de um novo modelo de inclusão financeira, pode estar incomodando não por falhas, mas por funcionar bem demais.

Texto: Daniela Castelo Branco

Foto: Divulgação

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