Apreensão é a maior já registrada pela PRF; carga avaliada em R$ 61 milhões estava escondida em caminhonete.
A segunda-feira (4) terminou com uma cena digna de filme policial nas estradas do Norte do país. Bruno Mendes de Jesus, 30 anos, empresário rondoniense do setor varejista de roupas e acessórios, foi preso em Boa Vista (RR) pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) transportando 103 kg de ouro em barras. A apreensão é considerada a maior já registrada pela PRF em rodovias federais.
O flagrante ocorreu na BR-401, nas imediações da ponte dos Macuxis, quando Bruno dirigia uma caminhonete Hilux 2024 acompanhado da esposa e do filho de apenas 9 meses. À primeira vista, parecia uma viagem familiar comum. Questionado pelos policiais, o empresário alegou ser “fiscal de obras”, mas não soube informar em qual canteiro atuaria em Boa Vista.
Como a PRF encontrou o ouro
Durante a fiscalização, os agentes notaram sinais de adulteração no painel da caminhonete, o que motivou uma vistoria mais detalhada. Em compartimentos internos, estavam escondidas as barras de ouro, avaliadas em cerca de R$ 61 milhões, conforme a cotação do Banco Central.
Segundo o agente Rodrigo Magno, que participou da operação, a experiência em rotas de risco e inspeções minuciosas foi determinante:
“Ao verificar o interior do carro, percebemos que algumas partes haviam sido mexidas. Isso nos levou a aprofundar a inspeção. A PRF atua constantemente em rotas mapeadas e utiliza técnicas para identificar situações suspeitas”, afirmou.
O empresário foi conduzido à Polícia Federal e permaneceu em silêncio. A caminhonete usada no transporte não está registrada em seu nome, e o verdadeiro proprietário ainda não foi divulgado.
Ouro sob investigação
O material apreendido foi encaminhado para perícia da Polícia Federal, que vai apurar a origem e o destino da carga. Como se trata de um volume expressivo transportado de forma ilegal, os investigadores querem identificar possíveis ligações com garimpo clandestino ou organizações criminosas especializadas em tráfico de minério.
O tráfico de ouro e a rota por Roraima
- Garimpos ilegais como fonte principal
Grande parte do ouro ilegal vem de garimpos clandestinos na Amazônia, principalmente em terras indígenas. - Roraima como corredor estratégico
O estado é usado para escoar ouro devido à proximidade com Venezuela e Guiana, onde o metal pode ser comercializado ou “esquentado” para exportação. - Métodos de transporte
O metal costuma ser escondido em caminhonetes, carros de passeio e aviões de pequeno porte, muitas vezes acompanhado por familiares para despistar autoridades. - Lavagem internacional
Uma vez fora do país, o ouro é vendido a refinarias estrangeiras e recebe certificações falsas de origem legal, movimentando bilhões no mercado paralelo.
Quais crimes o empresário pode responder
- Usurpação de bem da União – Pena de 1 a 5 anos de reclusão; o ouro extraído ilegalmente pertence ao patrimônio nacional.
- Transporte de ouro sem documentação – Pena de 1 a 4 anos de reclusão e multa.
- Lavagem de dinheiro – Pena de 3 a 10 anos de reclusão; ocorre se houver tentativa de inserir o ouro ilegal no mercado formal.
- Associação criminosa – Pena de 1 a 3 anos de reclusão, caso fique comprovado que ele integrava uma rede organizada.
Com essa apreensão, a PRF reforça o alerta sobre o crescimento do tráfico de ouro na Amazônia e promete intensificar fiscalizações em rotas estratégicas. Roraima, cada vez mais, se confirma como uma das principais portas de saída do minério ilegal do Brasil.
Texto: Daniela Castelo Branco
Foto: Divulgação