Nova taxação de 50% sobre suco de laranja pode inviabilizar exportações aos EUA, que respondem por 42% das compras.
Produtores de laranja brasileiros vivem dias de incerteza e apreensão diante da nova tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos do Brasil. O impacto pode ser tão severo que agricultores já cogitam deixar as frutas apodrecerem no pé por falta de mercado.
“Pode realmente já ficar fruto no pé por não ter para quem vender”, relatou o produtor Fabrício Vidal, de Formoso (MG), à Reuters. A preocupação não é exagerada: os Estados Unidos respondem por 42% do suco de laranja exportado pelo Brasil, um mercado que movimentou cerca de US$ 1,31 bilhão na última safra.
Os preços da laranja no Brasil já refletem o temor do setor. Neste mês, a caixa da fruta caiu para R$ 44; quase metade do valor de um ano atrás, segundo o Cepea/USP. Com a possível queda drástica nas exportações, o setor teme um efeito dominó: fábricas reduzindo o processamento, colheitas inviabilizadas economicamente e crise generalizada no cinturão citrícola.
Para os EUA, o cenário também não é confortável. O país enfrenta a menor produção de suco de laranja em 50 anos, com estimativa de que 90% do abastecimento até setembro virá de importações. Com o Brasil sendo responsável por 80% do suco de laranja do mundo, as tarifas podem afetar diretamente grandes marcas como Tropicana, Minute Maid, Simply Orange, Coca-Cola e Pepsi, que dominam o mercado americano.
A Johanna Foods, fabricante de Nova Jersey, já entrou na Justiça para barrar a nova tarifação, alegando que ela causaria “danos financeiros significativos” à empresa e aos consumidores norte-americanos.
No entanto, substituir o mercado dos EUA não será fácil para o Brasil. O suco brasileiro é exportado para apenas cerca de 40 países, e mercados alternativos; como Índia, Coreia do Sul e China, que impõem barreiras tarifárias ou têm baixa renda familiar, o que limita o consumo. A União Europeia, que já absorve 52% das exportações brasileiras, também não teria margem para ampliar significativamente sua demanda.
Diante disso, algumas empresas já consideram “triangular” as exportações via Costa Rica para evitar a tarifa. No entanto, segundo a CitrusBR, essa prática seria incompatível com as regras da OCDE e poderia gerar sanções adicionais.
Enquanto as saídas parecem escassas, os produtores se veem à beira de um colapso. “O custo da colheita quase não vale a pena”, desabafa Ederson Kogler, outro produtor de Formoso. Ele vê como única saída a abertura de novos mercados, mas admite: “são coisas que não acontecem do dia para a noite”.
Texto: Daniela Castelo Branco
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